Aumentos salariais e fármacos "cada vez mais caros" motivam derrapagem das contas do SNS, mas solução "não é desinvestir"
À TSF, Xavier Barreto, líder da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, sublinha que existe um retorno de uma parte do investimento que é feito no SNS: para reforçar estes resultados, além de uma aposta em ferramentas de inteligência artificial, sugere a "reformulação dos percursos clínicos"
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O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares afirma que o aumento salarial dos médicos e a existência de fármacos "cada vez mais caros" contribuíram para a derrapagem das contas do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Xavier Barreto defende, contudo, que a solução não passa por "desinvestir" nesta instituição.
Em causa está um estudo que será divulgado esta terça-feira, que dá conta que a sustentabilidade do SNS voltou a cair em 2024, pelo terceiro ano consecutivo, e teve a terceira maior descida da década, apenas superada por 2020, ano da pandemia. Os dados recolhidos no Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela NOVA Information Management School, apontam para um aumento da despesa de 11%, que não sendo acompanhado por igual aumento da atividade (que apenas cresceu 1%), resulta globalmente numa queda da produtividade — medida pelo número de doentes tratados por milhão de euros de despesa —, que atingiu em 2024 o valor mais baixo dos últimos 10 anos (185).
Em declarações à TSF, Xavier Barreto acrescenta que os aumentos salariais contribuem igualmente para o "aumento da despesa", ainda que os seus efeitos não sejam imediatos, mas antes "progressivos ao longo dos anos". Mas esta é apenas "uma parte da explicação".
Os fármacos "cada vez mais caros" também motivam um valor maior de despesa. "Muitas vezes podemos estar perante o tratamento do mesmo número de doentes, mas com novos fármacos que se traduzem em melhores resultados em saúde, que não estão medidos por este tipo de estudo", assinala.
O líder da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares salienta, contudo, que estes medicamentos "mais modernos e inovadores" e, por isso, "mais caros", têm resultados positivos: desde logo, os doentes ficam "melhores, vivem mais tempo e até trabalham mais, são mais produtivos enquanto membros de uma sociedade". Ora, para Xavier Barreto, isto significa que existe um retorno de uma parte do investimento que é feito no SNS.
O estudo desenvolvido pela Nova Information Management School conclui que o investimento no SNS em 2024 permitiu um retorno económico de 9,5 mil milhões de euros, quase mais três mil milhões do que em 2023.
Xavier Barreto ressalva, assim, que a solução "não é desinvestir do SNS", porque esta é, talvez, a instituição mais importante para os portugueses e para o funcionamento da sociedade. E aponta um conjunto de medidas que ajudam a mitigar esta descida no índice de sustentabilidade.
"Investir numa reformulação dos percursos clínicos, focar os médicos nas atividades que lhes são específicas, juntar novos profissionais de saúde à jornada do doente — criar mais consultas de enfermagem e feitas por outros profissionais, libertando os médicos para mais primeiras consultas e mais cirurgias", sugere.
A par destas iniciativas, pede também uma forte aposta em "ferramentas de inteligência artificial que ajudam os médicos a fazer diagnósticos e tratamentos mais rápidos" — algo "central no SNS e que não está a acontecer com a velocidade que deveria".
