A presidente da Associação Sindical dos Juízes diz que é "uma desconsideração pela classe" a ausência do Presidente da República no XI congresso de magistrados. Marcelo já respondeu.
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Marcelo Rebelo de Sousa disse hoje que não tem o "dom da ubiquidade", apesar de considerar "legítimos e justificados" melindres de alguns setores profissionais com a sua ausência, depois da queixa da Associação Sindical dos Juízes.
Durante o discurso no encerramento do Congresso Nacional dos Farmacêuticos 2017, que hoje decorre em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "embora conste que o Presidente da República tem o dom da ubiquidade, não tem" e "não consegue estar em todo o lugar ao mesmo tempo".
"Isso causa naturalmente alguns melindres legítimos e justificados de setores profissionais. Ainda hoje os juízes, por não ser possível estar no seu congresso", referiu.
O chefe de Estado deu ainda o exemplo da bastonária da Ordem dos Enfermeiros que "tem razões de queixa porque no meio das suas determinadas lutas bem gostaria de estar mais com o Presidente da República". "Mas o Presidente da República não consegue aguentar o seu ritmo de atividade ao serviço da classe que lidera", disse.
A presidente da Associação Sindical dos Juízes, Manuela Paupério, disse hoje à agência Lusa ser "uma desconsideração pela classe" a ausência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no XI congresso de magistrados, que durante três dias decorreu na Figueira da Foz.
"Estou farta de dizer que o poder político desconsidera o judiciário. Neste caso, o senhor Presidente da República associou-se a essa desconsideração que nós pensávamos que era apenas do Governo", disse Manuela Paupério, no encerramento do congresso.
As declarações de Manuela Paupério surgem após ter conhecimento de que Marcelo Rebelo de Sousa esteve sexta-feira no congresso dos Economistas e que hoje tem presença marcada no congresso dos Farmacêuticos, lembrando que o Chefe de Estado foi convidado a estar presente em 2016 e que, na ocasião, disse "que teria muito gosto".
"Não acredito que essas entidades [Ordem dos Economistas e Ordem dos Farmacêuticos] o tenham convidado antes de nós", disse, lamentando que o "poder judiciário seja desconsiderado pelo poder político". "Disse-o à senhora ministra muitas vezes clara e expressamente. Não é uma questão de dinheiro, nem de orçamento nem de gestão de recursos. É uma questão de vontade política", acrescentou.
A presidente da ASJP reforçou que a ausência do PR ainda é menos compreensível depois de este ter lançado, na abertura do Ano Judicial, um repto aos vários protagonistas do sistema judiciário para que fosse alcançado um pacto para a Justiça.
"O senhor Presidente da República fez esse apelo ao qual os juízes e concretamente a Associação Sindical dos Juízes deu resposta, envidando esforços com todos os outros intervenientes, Ministério Público, advogados e solicitadores de execução. Toda a gente respondeu ao repto do Presidente da República. Não compreendo".
Nas cerimónias do 5 de Outubro, Marcelo Rebelo de Sousa deixou recados sobre o funcionamento da justiça, apontando a necessidade de "uma justiça que veja o seu estatuto devidamente prestigiado" e seja "capaz de resolver os litígios em horizonte comparável" ao dos parceiros europeus de Portugal e que assegure aos cidadãos "que a sua inocência ou culpabilidade não será um novelo interminável".
Notícia atualizada às 19h34 com as declarações do Presidente da República