Autarca de Ponta Delgada lamenta silêncio de Marcelo e do Governo sobre enxurrada na Madeira
"No mínimo, no mínimo, uma palavra de força do Governo e da Presidência da República." O presidente da Junta de Freguesia de Ponta Delgada, no município de S. Vicente não compreende a falta de apoio por parte da Tutela e do Presidente da República, numa passagem de ano marcada pela enxurrada que desalojou várias famílias nos últimos dias.
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O presidente da Junta de Freguesia de Ponta Delgada, no município de S. Vicente, do Norte da ilha da Madeira, mostra o desalento por não ter recebido uma palavra do Presidente da República, desde as inundações do dia de Natal. Miguel Freitas não recebeu também qualquer contacto do Governo central.
Numa altura em que há pessoas que ainda vão passar o Ano Novo fora de casa, o autarca descreve que, na freguesia, os trabalhos de limpeza já tornaram possível a circulação. "As ruas principais da freguesia já estão praticamente limpas, e as estradas já estão transitáveis. O acesso à zona que estava isolada já está garantido, obviamente com algumas limitações. As empresas que estavam no terreno conseguiram colocar algumas pedras para tentar oferecer alguma segurança à própria estrutura da estrada."
"As pessoas podem circular. Hoje a estrada estará aberta." A garantia deixada por Miguel Freitas é também acompanhada pela atualização da situação das pessoas que ficaram sem teto. "Já temos pessoas colocadas. Algumas casas serão suportadas pela Segurança Social."
Seis pessoas, de três famílias, já foram recolocadas. "As restantes [três famílias, com nove pessoas no total] estão em casas de familiares", afiança o autarca.
"Tivemos o trabalho de limpeza. Já conseguimos criar condições para que algumas pessoas, de facto, hoje estejam em suas casas." Apesar de muitas pessoas se encontrarem "nos seus lares, a quererem festejar a passagem de ano com as suas famílias", a tristeza ainda é percetível na região, conta Miguel Freitas."Vamos passar o último dia do ano com lama e pedras, e pessoas que lamentavelmente não poderão estar nas suas casas."
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Num desabafo, em declarações à TSF, o presidente da Junta de Freguesia reconhece que se sente sozinho e com pouco apoio. "Isto mexe um bocado... Um autarca é um ser humano de carne e osso, não é uma máquina, e obviamente, passados alguns dias, sentimos esta necessidade de desabafar", admite.
"Apenas que peço que haja, pelo menos neste último dia do ano, uma mensagem para todos nós, porque eu também, como cidadão, gostaria que, depois de tanto sofrimento, houvesse uma palavra de conforto. É isso que eu quero."
Palavras de conforto não chegaram de Lisboa, assegura Miguel Freitas, que diz não ter recebido "qualquer contacto, qualquer e-mail, qualquer notícia, zero, nada", nem por parte do Governo, nem por parte do Presidente da República. "Fora a Câmara Municipal de São Vicente, a entidade que falou comigo foi o Governo Regional da Madeira", faz questão de frisar.
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"Sei que de momento há outras prioridades, mas pelo menos uma palavra, de alento e de força... Eu não quero acreditar que haja portugueses de primeira e de segunda, não quero acreditar nisso."
O autarca madeirense não quer polémicas. "Mas, quando acontece isto, num dia de Natal, quando acontece uma coisa destas e as pessoas que trabalharam a vida inteira veem tudo a ir por água abaixo, quando existe dor, tristeza, as pessoas estão isoladas, com problemas de saúde... Tanto sofrimento, tanta dor... No mínimo, no mínimo, uma palavra de força do Governo e da Presidência da República."