Autarca de Valença espera "todo o apoio possível" do Governo para reconstrução da fortaleza
José Manuel Carpinteira garantiu à TSF que começam, já na terça-feira, as conversas com a Direção Regional de Cultura do Norte para acelerar o protocolo que prevê um acompanhamento mais próximo da situação da muralha.
Corpo do artigo
A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, afirmou que a reparação da muralha de Valença deve ser assegurada pela autarquia. Em resposta, na TSF, o presidente da Câmara Municipal de Valença, José Manuel Carpinteira, disse esperar a solidariedade do Governo.
15586765
"Esperamos que o Governo acelere todo o apoio possível para a reconstrução da fortaleza e, sobretudo, desta parte de muralha que ruiu. No entanto, já tínhamos também referenciado que é preciso fazer uma análise mais aprofundada a todo o perímetro da fortaleza, que são cinco quilómetros. Vamos, com os técnicos da Direção-Geral de Cultura do Norte, com os técnicos do município e com especialistas nesta área dos monumentos, fazer rapidamente uma análise mais profunda a toda a muralha. Não sei exatamente quando é que esse levantamento dos riscos estará concluído, mas espero que seja o mais rapidamente possível", confessou à TSF José Manuel Carpinteira.
TSF\audio\2023\01\noticias\02\jose_manuel_carpinteira_1_ajuda
O autarca de Valença garantiu também que começam, já na terça-feira, as conversas com a Direção Regional de Cultura do Norte para acelerar o protocolo que prevê um acompanhamento mais próximo da situação da muralha.
"Há um mês que estávamos a trabalhar com a Direção-Geral do Património para criar uma equipa - entre técnicos da direção regional e do município - exatamente para fazer esse acompanhamento de uma forma mais presente e mais visível. Já estávamos a trabalhar no protocolo e agora, com este acontecimento, vamos ter de acelerar. Hoje a diretora regional esteve presente e mostrou-se disponível para, já amanhã, iniciarmos esse diálogo para fazer o protocolo", revelou o presidente da Câmara Municipal de Valença.
Para já, o autarca espera que os problemas não atrasem a candidatura a Património da Humanidade.
Já Luís Oliveira Fontes, arqueólogo da Universidade do Minho, trabalhou durante vários anos na Fortaleza de Valença e esteve ligado à candidatura a Património da Humanidade. Agora esclarece à TSF que os problemas já estavam identificados. A alternativa é estar atento.
"Pela sua dimensão e forma de construção, num aterro, sempre foi objeto de movimentações e fraturas porque a fortaleza está construída sobre um solo com características geológicas mais plásticas, como xistos alterados. Os engenheiros militares sempre entenderam bem essa fragilidade e dotaram a fortaleza, sobretudo nos baluartes e nas grandes cortinas, de sistemas de drenagem que permitiam escoar a água e eliminar esse risco de acumulação e movimentos que conduziam a derrocadas. Mas mesmo durante a ocupação militar aconteceram derrocadas e são frequentes os registos de reparação", explicou à TSF Luís Oliveira Fontes.
TSF\audio\2023\01\noticias\02\luis_oliveira_fontes_1
O arqueólogo da Universidade do Minha não ficou surpreendido com as derrocadas, mas não esperava que acontecessem em concreto naquele local.
"Na minha memória, não era o que apresentava sinais mais evidentes. Há outros baluartes na fortaleza que já estão identificados e sinalizados como devendo merecer uma atenção especial, nomeadamente o baluarte de São João, que tem fraturas significativas. Foram localizadas e sinalizadas todas as patologias estruturais. Confesso que fiquei um pouco surpreendido por ter sido aquela parte daquele baluarte", recordou o arqueólogo.
Conta ainda que a Câmara de Valença fez um projeto para melhorar as drenagens nos solos onde assenta esta estrutura e lembra que quando foi apresentada a candidatura a Património da Humanidade um dos pontos do caderno de encargos indicava precisamente a necessidade de um plano de acompanhamento.
"O último grande projeto que o município de Valença concretizou procurou também dar resposta a essa característica, mas nunca vai ser resolvido porque tem a ver com as características da construção e fadiga estrutural que é comum. Temos de estar sempre atentos, já em sede de candidatura se alertou para a necessidade de instalar um sistema de monitorização permanente e de ir fazendo as intervenções para minimizar este tipo de riscos", acrescentou.
A fortaleza, principal ex-líbris de Valença, é anualmente visitada por mais de dois milhões de pessoas. Monumento nacional, em vias de ser candidatada a Património da Humanidade, a Fortaleza assume particular importância pela dimensão, com uma extensão de muralha de 5,5 quilómetros, e pela história, tendo sido, ao longo dos seus cerca de 700 anos, a terceira mais importante de Portugal.
No domingo, ao início da tarde, a muralha da Fortaleza de Valença sofreu uma primeira derrocada, tendo a proteção civil apontado como motivo o mau tempo que se fez sentir no Norte do país.
A parte da fortaleza que caiu fica na zona da Coroada, junto ao parque de estacionamento do Município de Valença, no distrito de Viana o Castelo.
Durante a tarde de domingo "houve mais uma derrocada na continuidade da [parte] que já tinha caído", relatou o presidente da Câmara de Valença, José Manuel Carpinteira, em declarações à Lusa, salientando ser "bastante grande" o troço da muralha afetado.