"Sabíamos que havia condições para haver trovoada, mas daí até prever que a trovoada iria criar uma situação tão extrema não fomos capazes de prever"
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O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) não emitiu para sábado qualquer aviso meteorológico, para nenhum distrito do país, de trovoada ou vento forte que segundo as autoridades estiveram na origem e propagação do incêndio de Pedrógão Grande.
Recorde-se que é ao IPMA que cabe, segundo informação disponibilizada no seu site, "assegurar a vigilância meteorológica e emitir avisos meteorológicos sempre que se prevê ou se observam fenómenos meteorológicos adversos" que "possam causar danos ou prejuízos".
Os avisos consultados pela TSF para esse dia para o distrito de Leiria (tal como para os distritos de Castelo Branco e Coimbra, também muito próximos de Pedrógão Grande) apenas referiam um aviso Laranja devido ao "Tempo Quente" por "persistência de valores elevados da temperatura máxima". Nunca se fala de trovoada ou ventos fortes.
O site do IPMA explica que os avisos também são emitidos em relação ao vento forte e trovoada. E nos "Critérios de emissão dos Avisos Meteorológicos" que tem no seu site, o IPMA adianta que para emitir um aviso amarelo de trovoada basta que se preveja que estas sejam "Frequentes e Dispersas", algo que viria a acontecer em várias zonas do país.
IPMA diz que previsão foi correta
Contactado pela TSF, o presidente do IPMA também foi rever os registos e confirmou que naquele sábado o vento e a trovoada não geraram qualquer aviso meteorológico, apesar da previsão do tempo transmitida à população e à proteção civil apontar para a ocorrência de trovoada que não foi avaliada na altura como de risco: "Nós sabíamos que havia condições para haver trovoada, mas daí até prever que a trovoada iria criar uma situação tão extrema não fomos capazes de prever".
Miguel Miranda adianta duas hipóteses para o facto de não ter existido qualquer aviso devido à trovoada: os meteorologistas não detetaram risco significativo nas descargas elétricas para as populações; ou deram mais relevância ao calor extremo, histórico, que também estava previsto e teria maior impacto.
O responsável do IPMA defende, contudo, que isso não significa que a previsão tenha falhado, argumentando que tecnicamente os avisos meteorológicos apenas podem ser feitos à escala distrital e a essa escala aquilo que aconteceu bateu certo com a previsão: tempo quente persistente, vento moderado e trovoadas, sendo que o vento e as trovoadas não se previa que trouxessem riscos à população.
A situação extrema que aconteceu em Pedrógão Grande, diz Miguel Miranda, foi apenas à escala local e isso seria, segundo afirma, impossível de prever pela meteorologia. Ou seja, para sábado, a nível distrital, o IPMA "não previa nenhuma situação meteorológica de risco" ao nível do vento e trovoada (é isso que significa a cor verde nesses parâmetros), mas isso, garante o responsável, não é contraditório com o que aconteceu em Pedrógão Grande.
Relatório dentro de dias
O presidente da Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica também explica que as trovoadas são normalmente previstas, mas provavelmente não seria o fator mais relevante e de perigo nos boletins do IPMA para sábado, pelo que é normal que não tenha sido destacado até porque a trovoada seca "é muito rara".
Outro meteorologista, Costa Alves, admite que as trovoadas são normalmente previsíveis, mas neste caso é normal que o IPMA não tenha previsto consequências graves até porque as descargas elétricas são muito comuns neste altura do ano, na transição entre a primavera e o verão.
Recorde-se que o primeiro-ministro deu na segunda-feira ordens ao IPMA para que esclareça rapidamente se "houve em Pedrógão Grande circunstâncias meteorológicas e dinâmicas geofísicas invulgares que possam explicar a dimensão e intensidade da tragédia".
O presidente do IPMA, Miguel Miranda, promete ter a avaliação concluída dentro de dias.