Bairro da Nogueira: isolados na própria ilha
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O Bairro da Nogueira fica a treze quilómetros do Funchal, longe do turismo que move a economia, e é considerado um dos mais pobres da Madeira, uma das regiões do país com maior risco de pobreza. Em plena campanha eleitoral, quando os políticos batem à porta, os habitantes alertam para a degradação das habitações e para o aumento da toxicodependência.
De acordo com os dados da Direção Regional de Estatística, a taxa de risco de pobreza na Madeira tem aumentado, situando-se em 30,2%, num universo de 250 mil habitantes, com base nos rendimentos de 2021.
No Bairro da Nogueira vivem cerca de mil madeirenses, e muitas das casas foram construídas no tempo de Alberto João Jardim, líder histórico do PSD Madeira. Pelas ruas do bairro, veem-se algumas casas com a bandeira do PSD, colocada na varanda, mas já não tantas como no passado.
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Os populares retraem-se quando veem o microfone da TSF, muitos não querem falar, mas mostram preocupação com o isolamento social e avisam que a zona é uma "sala de chuto" a céu aberto.
Fátima Rodrigues, que subia a rua junto à antiga escola, que entretanto fechou, descreve o bairro em poucas palavras, com o característico sotaque madeirense: "Zona pobre e muitos drogados, há bastantes drogados".
A madeirense recebe pensão por invalidez, cerca 300 euros mensais, vive no bairro "há bastantes anos, mais de 15", para onde se mudou pouco depois do nascimento da filha.
A poucos dias das eleições, o voto já está decidido, "será no PSD de Miguel Albuquerque", que "tem feito muito pela região, tal como o Alberto João já tinha ajudado".
"Foi o Alberto João que mandou fazer estas casas para as pessoas virem para aqui", lembra, construções que remontam há várias décadas.
Outro dos habitantes do bairro, João, que não quer ser identificado pelo apelido, é mais comedido nas palavras. Pede, isso sim, uma esquadra da PSP "pela segurança do Bairro da Nogueira". "Deviam criar um posto de polícia aqui, para tirar esta droga e estes ladrões que há para aqui. Isso é que a gente queria", atira, recusando-se a prestar mais declarações.
Alegadamente, já há acordo com o Governo regional, para que a Polícia de Segurança Pública tenha instalações no bairro, mas a obra ainda não avançou e os habitantes continuam à espera.
"Renascer Nogueira" pela inclusão de jovens
Junto à antiga escola do Bairro da Nogueira, que foi desativada em 2012, o projeto "Renascer Nogueira" vai tentando dar uma nova vida às crianças e jovens do bairro. O projeto tem como base a inclusão social através do sucesso escolar para crianças e jovens até aos 25 anos.
Este é um dos 108 projetos a nível nacional do "Programa Escolhas", do Alto Comissariado para as Migrações, que no Bairro da Nogueira é coordenado por Liliana Rodrigues, que recebeu a TSF.
"Conseguimos envolver 215 participantes desde o início do projeto, ou seja, desde abril de 2021. No último ano letivo conseguimos que 55 crianças e jovens transitam-se de ano com bons resultados escolares", destaca.
É um projeto que "faz a diferença", nota Liliana Rodrigues, lembrando que, em relação ao bairro, o Governo regional tem prometido que "será um dos próximos a ser reabilitado", tal como "já foram muitos outros".
Aos habitantes do bairro resta esperar, lamentando que, nesta altura, comecem a ficar isolados dentro da própria ilha: os serviços estão mais longe, concentrados nos grandes centros urbanos.
