Baixos salários: apoios do Estado e aposta na formação para manter jovens no país
Salário real dos jovens licenciados caiu 12% desde 2011, revela um estudo divulgado esta quinta-feira. Governo e representantes das empresas apontam soluções para evitar a fuga de jovens qualificados.
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O secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, reconhece que "o país tem um problema de baixos salários", mas garante que o Governo está a fazer tudo para mudar essa realidade.
"Por isso temos medidas como IRS jovem, em que já este ano um salário de um jovem só será taxado em 50% no primeiro ano, 40% no segundo, 30% no terceiro e quarto e 20% no último ano", destacou Miguel Fontes em declarações no Fórum TSF.
E "no dia 1 de julho vamos lançar o programa 'Avançar', em que mais uma vez mobilizamos fundos públicos significativos para apoiar a contratação de jovens qualificados, neste caso, um valor que não pode ser inferior a 1330 euros - o valor que no Estado se paga a um técnico superior em início de carreira - em que a única coisa que pedimos ao empresarial é que contrate estes jovens com qualidade, ou seja, numa modalidade de contratação sem termo, combatendo a precariedade laboral e recebendo, por isso, um incentivo financeiro muito significo".
Um relatório da Fundação José Neves (FJN) divulgado esta quinta-feira, revela que, entre 2021 e 2022, o salário real caiu 4%, penalizado pela subida da inflação, o que levou a uma perda do poder de compra, um impacto que se sentiu, sobretudo, entre os jovens qualificados.
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O secretário de Estado do Trabalho nota que o tecido económico português - caracterizado essencialmente por micro e pequenas empresas, "não se alterou ao ritmo da estrutura de qualificações", pelo que os jovens têm mais dificuldade em encontrar no mercado de trabalho um emprego que corresponda às suas qualificações.
Para o presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, Portugal tem de apostar numa formação que tenha em conta as necessidades da economia. É normal, diz, que os jovens procurem emprego no estrangeiro se não tiverem oportunidades no país, nota.
"Nós estamos inseridos no espaço europeu, que é um espaço de livre circulação de pessoas, e é natural que os mais jovens, com mais capacidade - ainda por cima hoje não há qualquer entrave, dominam todos os a língua comum, que é o inglês, viajam com a maior das facilidade - muito facilmente se desloquem para outros países onde têm propostas de trabalho mais atraentes, não só do ponto de vista dos rendimentos que vão auferir, mas das próprias condições de trabalho."
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"Isso é algo que tem que ser devidamente encarado a nível europeu", defende o presidente do CES.
Quanto às empresas, Francisco Assis diz não ter dúvidas que a questão dos salários preocupa os empregadores.
"Quando olho para o para o tecido empresarial português, para os representantes dos empresários portugueses, noto que há neles uma preocupação com a questão dos rendimentos dos seus trabalhadores, porque têm absoluta consciência da questão da justiça social e têm absoluta consciência da questão da eficiência das próprias empresas - é evidente que empresas com funcionários bem pagos a são empresas que funcionam melhor, com maior rentabilidade e com maior eficiência."
O coordenador do Observatório de Emprego Jovem (OEJ), Paulo Marques, concorda com a necessidade de apostar em áreas que tenham mais procura no mercado.
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"É preciso crescer onde existe maior procura no mercado de trabalho. Porquê? Porque isso dá poder negocial aos jovens", defende. "Ou seja, se nós conseguirmos fazer crescer as áreas de formação em que há muita procura e que os empregadores querem contratar muito, por exemplo nas áreas das engenharias, nas áreas da saúde e das tecnologias digitais em geral, nós conseguimos que esses jovens tenham poder negocial diferente do que se expandirmos a formação no ensino superior em áreas em que há menos procura e os jovens sentem-se pressionados para aceitar."