Banco de Portugal alerta: maioria das instituições financeiras sem estratégia para risco ambiental

Foto: Gonçalo Delgado/Global Imagens (arquivo)
O supervisor das instituições financeiras alerta para a "exposição do setor bancário ao risco climático"
No relatório anual, divulgado esta quarta-feira, o Banco de Portugal (BdP) assume que foram detetadas "insuficiências na consideração dos riscos climáticos e ambientais aferidos como materiais na determinação e na execução da estratégia de negócio da instituição".
O supervisor garante que, "atualmente, menos de 20% das instituições integram adequadamente estes riscos na definição da sua estratégia de negócio, por exemplo, através da identificação de objetivos estratégicos, incluindo no médio e longo prazo, e de indicadores-chave de desempenho que sejam granulares, mensuráveis e quantificáveis, e que permitam uma adequada monitorização da implementação dessa estratégia".
O relatório sublinha que "uma outra área de menor progresso, e que pode contribuir para as lacunas identificadas, prende-se com a infraestrutura de recolha e de compilação de dados relevantes para aferição e mensuracão dos impactos destes riscos" ambientais e climáticos.
"Em cerca de 75% dos casos as práticas das instituições estão em desconformidade com o definido nas expectativas", adianta.
A edição deste ano do relatório dedica uma atenção especial à avaliação da exposição do sistema bancário ao risco de incêndios rurais.
De acordo com o Banco de Portugal, o aumento da frequência e da intensidade dos fogos rurais "acentuam o potencial impacto negativo sobre a atividade económica e, consequentemente, o risco do crédito concedido a empresas e particulares".
Empréstimos bancários não fazem contas à pegada ecológica
O relatório do BdP revela que "a carteira de empréstimos bancários às empresas mantém-se mais intensiva em carbono, por comparação com o total da economia, à semelhança da generalidade dos sistemas bancários da área do euro. Por seu turno, continua a não se identificar uma concentração excessiva da carteira de empréstimos em setores de atividade mais expostos ao risco de transição".
Por outro lado, a banca tem de se preparar porque "a introdução, em 2025 e 2026, de novas exigências regulamentares para as instituições de crédito, relativas aos riscos ambientais, sociais e de governação (ESG), vem reforçar os poderes dos supervisores no acompanhamento destes riscos".
No entanto, "na maioria das situações, as medidas implementadas são ainda insuficientes para assegurar um adequado alinhamento das práticas de identificação e gestão do risco climático e ambiental, mantendo-se a necessidade de as instituições acelerarem os esforços de adaptação, para assegurar o cumprimento das orientações do supervisor de forma plena e tempestiva".
As empresas
A pesquisa do BdP identificou 525 380 estabelecimentos de 492 991 empresas com localizações georeferenciadas em Portugal Continental; 97% do total destas empresas possui apenas um estabelecimento, que corresponde à sede.
A exposição do sistema bancário ao crédito a empresas inclui empréstimos bancários e títulos de dívida.
Considerando apenas os estabelecimentos das empresas localizados no território de Portugal Continental, o crédito incluído na avaliação da exposição do setor bancário aos riscos físicos ascende a 61,3 mil milhões de euros (82% do total de empréstimos a empresas) em empréstimos e 11,6 mil milhões de euros em títulos de dívida (62% do total de títulos de dívida das empresas em carteira nos bancos.
Os resultados "apontam para uma exposição direta limitada do setor bancário aos níveis mais elevados da perigosidade de incêndio rural por via do crédito concedido às empresas. Para a definição de risco de incêndio rural "muito alto" e "alto" a distribuição de crédito evidencia "um peso diminuto", situando-se em 1,8% do total de crédito às empresas".
As famílias
Para o BdP, "a materialização de riscos físicos de incêndios rurais pode ter impacto em diferentes exposições do setor bancário, incluindo nos empréstimos concedidos a particulares".
Os particulares podem ser afetados pelos incêndios rurais através dos danos nos imóveis ou da perda de rendimento associado ao trabalho, com impacto na sua capacidade de serviço de dívida e no valor dos colaterais dados em garantia nos empréstimos bancários.
Em relação aos empréstimos hipotecários concedidos a particulares. O relatório considera as operações de crédito à habitação com pelo menos um colateral imobiliário associado.
Foram identificadas, com referência a dezembro de 2024, um total nacional de 1 182 348 operações de empréstimo, cujos colaterais imobiliários localizam-se em Portugal Continental, totalizando 83,1 mil milhões de euros (80% do total de crédito a habitação).
"A exposição do setor bancário, através dos empréstimos a particulares, às classes mais elevadas de perigosidade de incêndio rural é reduzida".
Esta exposição ao risco de incêndios rurais representa 1% do total de empréstimos hipotecários a particulares.