Economia deverá crescer 3,9% neste ano e 5,2% no próximo. Desemprego será menor do que o previsto. Plano de Recuperação pode ter impacto positivo de 1% a 2% do PIB e criar 70 mil empregos.
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O Banco de Portugal (BdP) manteve a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 em 3,9% e reviu em alta a expetativa para 2022, ano em que o PIB deverá aumentar 5,2%, em vez dos 4,5% calculados nas últimas estimativas.
No Boletim Económico, o supervisor escreve que "a economia portuguesa deverá crescer acima da área do euro até 2023, após uma queda mais pronunciada em 2020 e no início de 2021. No final do horizonte, o crescimento acumulado desde o final de 2019 é idêntico em Portugal e na área do euro".
A evolução prevista para 2021 é o cenário central dos três que a instituição liderada por Mário Centeno desenhou para o país até 2023.
A hipótese otimista, que assume maior controlo das infeções Covid-19, e o levantamento mais rápido das medidas de contenção, aponta para um crescimento de 4,7% em 2021, 5,4% em 2022 e 2,3% em 2023.
Já o cenário adverso prevê um crescimento de 1,6% neste ano, e 3,2% nos dois seguintes e tem implícita uma vacinação mais lenta da população e o surgimento de novas variantes que podem implicar novos períodos de confinamento e restrições à circulação entre fronteiras.
No Boletim Económico, a instituição liderada por Mário Centeno sublinha que a recuperação vai ser "diferenciada entre setores e componentes da despesa", e esclarece que "os principais contributos para o crescimento económico vêm das exportações e do consumo privado, que são as componentes que mais se reduziram" na crise.
O BdP entende que a "recuperação deverá ser mais lenta nos serviços mais dependentes de contactos pessoais" e que "a retoma da atividade traduz-se numa melhoria no mercado de trabalho, com um crescimento médio do emprego de 0,8%".
A taxa de desemprego em 2021 atingirá 7,7%
A taxa de desemprego no final deste ano atingirá 7,7% (em vez dos 8,8 calculados nas últimas projeções), caindo ligeiramente para 7,6% em 2022 e 7,2 em 2023, valores que ainda assim são superiores aos 6,8 registados em 2020.
O BdP antecipa "uma recuperação rápida após o levantamento das medidas de contenção, mas desigual entre setores. A atividade deverá recuperar de forma robusta com o levantamento progressivo das medidas de contenção e com a disseminação das vacinas, desacelerando no final do horizonte de projeção".
Os autores do documento notam que "a atividade industrial tem sido mais resiliente, antecipando-se uma recuperação mais rápida" mas avisam que "a recuperação dos serviços e, em particular, nas atividades ligadas ao turismo, cultura e entretenimento será mais gradual"
O consumo privado vai crescer 2,0%, 4,8% e 2,3% no período 2021-23, com uma recuperação mais lenta nos segmentos de serviços que exigem interação social. Este crescimento "reflete a evolução favorável do rendimento disponível real das famílias e a manutenção de condições benignas de financiamento". Os economistas esperam "que a concretização de compras adiadas seja mais forte no caso dos bens. A capacidade de recuperar oportunidades de consumo adiadas é mais limitada no caso dos serviços".
O aumento da taxa de poupança de 6,8% em 2019 para 12,0% em 2020 reforça a ideia de uma recuperação do consumo. Este aumento "não é explicado apenas pelos habituais determinantes, incluindo o motivo de precaução, estando em larga medida associado aos receios e restrições que limitaram a despesa, e que se repetiram no início de 2021"
A instituição liderada por Mário Centeno estima que o consumo público cresça 3,7% em 2021, após o aumento de 0,5% em 2020. Esta aceleração "decorre do efeito de base nas despesas com pessoal associado à redução das horas trabalhadas nas administrações públicas em 2020, cuja magnitude é superior à esperada em 2021".
Investimento público deverá aumentar 20% em 2021
O investimento residencial e o investimento público, "menos afetados pela crise, continuarão a crescer no horizonte de projeção. O investimento residencial deverá permanecer robusto, crescendo 1,6% em média".
O investimento público deverá aumentar 20% em 2021 depois do crescimento de 17% em 2020, beneficiando dos fundos europeus.
Até 2023 o investimento empresarial vai aumentar 3,8% em média, depois de uma queda de 5,6% em 2020.
As exportações crescem 13,7% em 2021, 11,5% em 2022 e 5,3% em 2023. Esta evolução "reflete a dissipação mais lenta dos impactos diretos da pandemia nas exportações de turismo, que começam a ganhar dinamismo apenas a partir de meados de 2021, e o peso significativo desta componente, o quarto mais elevado na área do euro em 2019".
Note-se no entanto que em 2023 as exportações de turismo encontram-se ainda ligeiramente abaixo das de 2019, sendo que "a experiência da pandemia sugere a possibilidade de uma redução das viagens de negócios nos próximos anos, o que penaliza a evolução dos setores exportadores de serviços".
As importações crescem em média 8,4% até 2023
Plano de Recuperação cria 70 mil postos de trabalho
O BdP decidiu também avaliar o impacto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no período, mas apenas considerou as apoios a fundo perdido, "cujo montante total ascende a 13,9 mil milhões de euros, o que corresponde a 6,5% do PIB de 2019, a quinta percentagem mais elevada na Europa".
Realçando que o PRR "considerado neste exercício corresponde à versão apresentada para consulta pública no dia 15 de fevereiro", os economistas do supervisor escrevem que os resultados da análise "apontam para que o nível do PIB em 2026 seja entre 1,1% e 2,0% superior ao que ocorreria na ausência do PRR".
O BdP também desenhou três cenários para estimar o impacto do Plano de Recuperação e Resiliência. No mais otimista, que corresponde a um impacto positivo de 2% no Produto Interno Bruto, o supervisor calcula que "a criação de emprego implícita é de 1,4%, o que corresponde a cerca de 70 mil postos de trabalho".