Barómetro: famílias portuguesas asfixiadas com aumento do custo de vida
Barómetro anual da Deco Proteste sobre a capacidade financeira dos portugueses revela que há 74% com dificuldade em pagar casa e alimentação.
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Portugal não escapa à realidade mundial que é desanimadora e as dificuldades financeiras das famílias portuguesas aumentaram significativamente no último ano.
Esta é uma das principais conclusões do Barómetro anual sobre a capacidade financeira das famílias portuguesas que a DECO PROTESTE, a maior organização portuguesa de defesa do consumidor, apresenta pelo quinto ano consecutivo.
Cerca de três quartos das famílias enfrentam, mensalmente, dificuldades financeiras, sendo que 8% se encontram em situação crítica: têm dificuldade em pagar todas as despesas ditas essenciais (mobilidade, alimentação, saúde, habitação, lazer e educação), revela o barómetro divulgado neste Dia Mundial do Consumidor.
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As principais parcelas que geram constrangimentos na gestão orçamental dos consumidores dizem respeito às despesas com o carro - combustíveis, manutenção e seguros (67%) -, alimentação - carne, peixe e alternativas vegetarianas (59%) -, férias grandes - viagens e estadias (57%) -, cuidados dentários (55%) e manutenção da casa - obras, remodelações (54%).
74% das famílias portuguesas assume dificuldades financeiras em 2022 e comparativamente com 2021, a dificuldade em enfrentar as despesas com a alimentação sofreu o maior aumento (15%), seguindo-se as despesas com a habitação (5%) e a mobilidade (4%).
Para Rita Rodrigues, Diretora de Comunicação e Relações Institucionais da DECO PROTESTE estes resultados de 2022 não são animadores, pois constata-se que não houve uma melhoria efetiva das condições de vida dos portugueses nos últimos anos, e as consequências da guerra na Ucrânia puseram a nu todas as fragilidades da nossa economia e a debilidade económica da maioria dos agregados familiares.
Esta responsável defende que é preciso uma intervenção urgente no controlo de preços, de todos os intervenientes na cadeia de valor, desde produtores, fornecedores, governo e até Autoridade da Concorrência, considerando que os bens essenciais deveriam ter uma intervenção governativa, tal como aconteceu no domínio da energia, incluindo gás, na eletricidade e combustíveis.
E sublinha que é com satisfação que se vê a preocupação do Estado em intervir e em criar mecanismos concretos, mas estes têm de ser rápidos e estruturados para ajudar os portugueses.
O índice que mede a capacidade financeira das famílias também não deixa espaço para dúvida: em 2022, atingiu o valor mais baixo desde há 5 anos - 42,1 (de 0 a 100; em que quanto mais elevado o número, maior a capacidade financeira para enfrentar as despesas mensais).
Em termos geográficos, é nos Açores que o índice apresenta piores resultados (37,2), seguindo-se os distritos de Vila Real (38) e Aveiro (39,4). Em maior desafogo financeiro estão os distritos de Coimbra (47,1) Beja (43,5), Lisboa (43,5) e a Região Autónoma da Madeira (45,1).
Despesas com alimentação e habitação à lupa
Há mais de um ano que a DECO PROTESTE analisa o aumento do preço do cabaz alimentar e as flutuações das taxas de juros. Em fevereiro de 2022, o valor do cabaz alimentar custava 185€. Um ano depois, o mesmo cabaz chega aos 222€, 20% mais caro.
O ano passado cerca de 44% das famílias portuguesas assumiram a dificuldade em pagar as contas com os produtos alimentares, numa tendência que se agrava desde 2020, onde as famílias em apuros eram quase metade.
Mercearia, carne, peixe, vegetais e frutas são os produtos que os consumidores têm cada vez mais dificuldades em pôr nas suas mesas. Mais de metade dos agregados assumem que o preço crescente é um claro entrave à sua compra regular.
Também na área da habitação a realidade dos portugueses não é risonha: depois das taxas de juros terem andado em terreno negativo meses a fio, o Banco Central Europeu iniciou o seu reajuste, reduzindo, ainda mais, o dinheiro que sobra no final do mês dos consumidores.
Uma vez que o custo da habitação (compra ou arrendamento) em Portugal é dos mais elevados da Europa, é fácil de entender o motivo pelo qual quase metade das famílias portuguesas (44%) assume ter dificuldades em pagar a sua renda ou o seu empréstimo. Nesta categoria, englobam-se as despesas de manutenção com a casa.
As dificuldades económicas sentidas pelos portugueses refletem-se, igualmente, na capacidade de poupança - quase 75% afirmam que é impossível ou quase impossível estender o seu rendimento, de forma a conseguir poupar sequer uma pequena quantia.
Rita Rodrigues revela que a DECO preconiza que o Governo esteja atento à realidade e às dificuldades concretas que a maioria dos portugueses tem de enfrentar diariamente.
