Barragens no Algarve com "mínimos históricos". Região vai buscar recursos hídricos "à poupança"
A APA explica à TSF que o Algarve está a "trabalhar com reduções de precipitação muito severas e ímpares a nível nacional".
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A área de Portugal continental em seca meteorológica diminuiu para metade em setembro face a agosto, mas o Algarve é a exceção. O delegado regional da APA alerta que, nesta região, já não chove há vários meses, pelo que as barragens estão em "mínimos históricos", assim como as águas subterrâneas.
No seminário organizado pela Direção Regional de Agricultura do Algarve, sob o lema Água É Vida, Pedro Coelho, delegado regional da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), considera que no futuro tem de haver mais planeamento e ordenamento agrícola e um controlo prévio sobre aquilo que se planta, sob pena dos recursos hídricos se esgotarem.
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"A floresta tem planos, a floresta tem controlo prévio e continuámos sem plano de ordenamento cultural na agricultura e continuámos sem um controlo prévio na agricultura. Não é possível - com as reduções de disponibilidades que estamos a ter - não conseguir existir um controlo prévio na agricultura", defende, afirmando ainda que esta mudança "tem de existir para as novas gerações".
"Não vamos continuar a conseguir gerir um território, gerir atividades agrícolas, gerir recursos em escassez com os atuais instrumentos. Este instrumento tem de existir e tenho muitas dúvidas de que ele seja inconstitucional como alguns querem fazer ver", atira.
Se ainda houvesse dúvidas sobre a situação de seca vivida na regiao, Pedro Coelho dissipou-as ao falar na falta de precipitação ao longo dos anos.
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"Em 2018 e 2023, temos oscilações até aos 50% de redução e os 20% de redução e temos dois anos seguidos, que é o 2022 e o 2023, com reduções muito significativas. Significa que estamos a trabalhar com reduções de precipitação muito severas e ímpares a nível nacional", explica, em declarações à TSF.
O delegado regional avança ainda que, entre outubro de 2022 e 2023, "as barragens têm menos 50% de água e há pelo menos dois anos consecutivos que se vai buscar recursos hídricos à poupança".
"A água que choveu durante este ano hidrológico - desde 30 de setembro de 2022 a 30 de setembro deste ano - nós consumimos toda esta água armezanada nas nossas albufeiras na última semana de julho. A última semana de julho consumiu todo o recurso renovável superficial armazenado nas albufeiras este ano, isto significa de julho até 30 de setembro estivemos a viver à custa da poupança dos anos anteriores", adianta.
Mas se aqui a situação já se apresenta como preocupante, Pedro Coelho não pinta um melhor cenário no que toca às águas subterrâneas.
"Estamos nos mínimos históricos e temos um aquífero muito importante, que é o Querença-Silves, que está a atingir os mínimos. Mínimos da seca 2004/2005, significa que estamos já abaixo desses valores", lamenta.
Grande parte das culturas na região do Algarve são citrinos e abacates, culturas que exigem rega constante.
Pedro Valadas Monteiro, diretor da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, alerta também para o facto de mesmo a cultura de sequeiro, que geralmente não precisa de ser regada, sem chuva e sem água no solo, está a morrer.
"Trinta por cento do território do Algarve tinha um índice ou uma concentração, uma acumulação de água no solo inferior a 1%, o que significa que mesmo a natureza, que só vive daquilo que a própria natureza lhe fornece e que fica armazenado no solo, mesmo ela própria está em sofrimento.", conclui.
O Algarve, por ano, consome cerca de 237 hectómetros cúbicos de água, nesta altura as barragens têm menos de metade 107 hectómetros cúbicos, mas apenas 47 são considerados volume útil.