BE acusa Costa de "hipocrisia" por criticar Lagarde sobre juros sem ser "consequente"
Mariana Mortágua acusou ainda o primeiro-ministro de construir "uma retórica" em torno do perigo de aumentar salários em termos de inflação.
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A líder do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, acusou esta sexta-feira o primeiro-ministro, António Costa, de "hipocrisia" por criticar a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sobre juros, sem ser "consequente".
"Nós ouvimos o senhor primeiro-ministro todo último ano a dizer que não se pode aumentar salários, porque isso cria uma espiral inflacionista. Foi toda esta retórica que o Governo construiu e de facto não aumentou salários", disse Mariana Mortágua em declarações aos jornalistas, à margem de uma concentração de enfermeiros em greve, em Lisboa.
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"É ainda mais espantoso que o senhor [primeiro] ministro descubra agora que o problema da inflação são os lucros (...) Os bancos acabaram de anunciar lucros e percebemos agora que tem uma margem financeira que é dez vezes superior à dos outros bancos da Europa, o que quer dizer que estão a lucrar com a desgraça das pessoas que não conseguem pagar o crédito à habitação", acrescentou.
A coordenadora do BE pede que "ao invés de criticar" Lagarde, o executivo convide a presidente do BCE para ser ouvida no Parlamento e aumente os salários do Estado "para compensar a inflação".
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"Essa é a forma consequente de criticar as declarações de Lagarde. Caso contrário, são declarações vazias, são fáceis de fazer, ficam bem, mas não têm qualquer consequência prática", afirmou Mariana Mortágua.
Esta quinta-feira Costa considerou que BCE "não compreende a natureza específica deste ciclo inflacionista". Para o primeiro-ministro, "é mais ou menos claro" que "o aumento dos lucros extraordinários tem contribuído mais para a manutenção da inflação do que a subida dos salários", como defendeu recentemente Lagarde.