O concerto dos Be-Dom encerrou o último dia do Festival Moods.
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A habilidade da reutilização é uma arte dominada pelos Be-Dom, que através dos objetos mais improváveis fazem instrumentos musicais e criam algo em que, quem participa, "vai querer contar até aos netos".
"Tudo reage à vossa energia. Experimentem fazer barulho", foi com esta proposta que a banda abriu o concerto deste domingo, no último dia do Festival Moods.
Rodeados por bidões, garrafas, latas, caixas de metal, apitos, tachos, bolas de ténis e outros objetos que tipicamente não são associados à música, os Be-Dom encheram Matosinhos de ritmo.
Num concerto conduzido pelo humor, os músicos captaram a atenção do público com recurso a beat box, interjeições e uma vasta dose de boa disposição.
Neste espetáculo, todos os cenários foram possíveis, já que o final das músicas era seguido de um pequeno teatro humorístico. De uma boys band a clientes de um restaurante que tentavam chamar a atenção do cozinheiro, os músicos contaram com o apoio do público para compôr as suas criações. Aplausos, risos, gritos e a batida dos pés da multidão foram alguns dos truques utilizados para fazer deste um concerto interativo.
"Eu acho que essa é uma das grandes potencialidades deste concerto. É nós trazermos o público para o palco. Mas não digas a ninguém, normalmente as pessoas assustam-se com esse conceito", afirmou entre risos, Marco Pinto, músico de 43 anos.
A experiência de palco é partilhada com os mais corajosos, que a pedido da banda sobem ao coreto, já preenchido com todos os instrumentos e acessórios.
"Trazemos o público para tocar os instrumentos e acho que é interessante. Às vezes é difícil arranjar pessoas, mas depois de estarem lá, acredita que é uma coisa que eles vão contar até aos netos", continua o artista.
Por não utilizarem palavras, este é um tipo de espetáculo "que tanto resulta aqui, como em qualquer outra parte do mundo", afirma André Ferreira, 43 anos.
A banda, que vai comemorar 25 anos de carreira, conta que tudo começou por "necessidade".
"Nem foi uma ideia. Foi uma necessidade. Nós fomos convidados para fazer uma música de uma peça de teatro há muito tempo e precisávamos de som sem ter de recorrer a cabos e micros, a coisa mais barata possível. E começamos a acumular e a procurar", recorda André Ferreira.
Apesar de não terem começado "para passar uma mensagem de sustentabilidade", o percurso da banda tem sido pautado pelo bom uso de materiais desperdiçados.
"Tentamos seguir esse conceito de reutilizar e de fazer instrumentos do nada. Mas essa é uma ideia que deve ser transversal a toda a gente, não é só a nós", defendeu Marco Pinto.
A participação da banda no Moods é então "uma união de vantagens".
"Vais a um sítio passar um espírito dentro de um ambiente que já está à espera disso, que já está a pensar nisso. E nós viemos trazer mais uma forma de usar essa atitude de reutilizar também na arte, também na música", continuou o músico.
Eventos como este dão "esperança" aos artistas, que vêem com agrado "um número cada vez maior destas iniciativas".
Os vários quilómetros de estrada percorridos em concertos "têm sido uma aventura", mas os nervos antes de subirem ao palco ainda se fazem sentir.
"Há sempre nervos. Mas eu acho que isso é bom, é essa adrenalina que nos faz querer ensaiar e irmos em frente. É a adrenalina que move as pessoas", afirma André.
A carreira musical que se construiu "um bocadinho de improviso e do inesperado" é longa, mas ainda há entusiasmo para trazer novidades ao público, ainda que o tempo para ensaiar já não seja o mesmo que antigamente.
"Para o ano, vamos comemorar 25 anos, portanto vamos ter de preparar alguma coisa especial", promete o artista.