Instituição da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, já acolheu 369 casos. Atualmente, encontra-se lotada, com 20 utentes dos 5 meses aos 14 anos de idade
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“A casa está cheia”, indica o padre Artur Coutinho, o fundador do Berço, uma instituição da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, com 30 anos de existência, que acolhe crianças em situação de risco.
Desde 1994, já acarinhou e procurou encaminhar para uma nova vida 369 meninos e meninas Destas, "cerca de 30 por cento" foram para adoção e as restantes regressaram à família ou foram para outras instituições.
Neste início de 2024, acolhe duas dezenas, a mais velha das quais com 14 anos. A maioria têm cerca de seis anos de idade, três meninos frequentam o pré-escolar e seis ainda estão no berçário. E a última a entrar foi uma bebé recém-nascida, retirada à mãe ainda na maternidade, num contexto de “falta de competências parentais”.
Todas chegaram ao centro de acolhimento com “uma bagagem pesada”, de abandono, negligência, maus tratos e até abuso parental.
“Já vi histórias de vida muito complicadas. Algumas muito gratificantes, porque acabamos por ter um projeto de vida para essas crianças, mas outras menos porque o desfecho acaba por ser não muito agradável”, afirma Rosa Meira, que foi coordenadora da instituição, durante 17 anos. Guarda memórias difíceis de esquecer.
“Tivemos aqui um caso de duas irmãs, retiradas à mãe, uma delas por abuso sexual do padrasto. Entretanto foram devolvidas à mãe, porque aquela relação acabou, e, anos mais tarde, regressaram à instituição, já com 12 e 13 anos”, recordou Rosa, desabafando: “Penso em como é que esta jovem [a abusada] irá enfrentar o futuro com uma carga tão pesada? Por vezes é uma frustração muito grande, porque queremos ir mais além do que conseguimos”.
O Berço recebeu as primeiras crianças em 1994. Três irmãos, com 8, 6 e 4 anos de idade, retirados a “pais alcoólicos”.
“Estiveram três anos na instituição, até serem adoptados por um casal da Suíça. Eram ambos professores de matemática e já tinham recorrido à adoção internacional. Adotaram uma menina indiana e queriam um irmão”, recorda o padre Artur Coutinho, acrescentando: “Quando lhes falaram nos três irmãos em Portugal, não quiseram, mas, lá pensaram, e passado um mês ou dois, voltaram."
Os irmãos deixaram o “Berço” um ano depois, após um período de adaptação, nos braços da nova família suíça. E em “pouco tempo, deixaram de falar português e aprenderam a esquiar”. Um caso que o fundador do centro de acolhimento, assinala com sendo de êxito, mas que o “marcou muito”.
Beatriz Seabra, que trabalha no “Berço” há dois anos, e substituiu Rosa como coordenadora neste novo ano, refere que “toda a criança que integra uma casa de acolhimento, é sempre um caso complicado”. “Os que me tocam mais, são os de crianças abusadas. Cada vez tem aparecido mais casos”, comenta.
Membro da direção, Jaime Caridade, resume a vocação daquele centro: “O Berço é onde a criança é mimada, acolhida e nos preocupamos se ela está bem. É isso que procuramos. As nossas funcionárias, são todas mulheres, e são as mães."
