Bombeiros querem que hospitais paguem taxa pelas ambulâncias paradas nas urgências
António Nunes explica, em declarações à TSF, que o pagamento seria feito depois da primeira hora. A partir desse momento, a ideia é que os hospitais paguem uma taxa de "28 euros por cada hora".
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A Liga dos Bombeiros quer que os hospitais paguem uma taxa pelas ambulâncias que ficam paradas nas urgências à espera de macas. O pagamento começaria a ser feito depois da primeira hora. A informação é avançada pelo Jornal de Notícias e explicada à TSF pelo presidente da Liga dos Bombeiros. António Nunes considera que o problema é grave, em especial na área da Grande Lisboa.
"É um problema grave em alguns pontos do país, designadamente no distrito de Setúbal e nas zonas urbanas. Aquilo que nós dissemos foi que a primeira hora é uma hora razoável para a entrega e a passagem de um doente que seja de emergência pré-hospitalar. A partir desse momento, alguém tem que assumir os encargos com as ambulâncias, ou seja, a partir da primeira hora, o hospital passaria a pagar uma taxa ao corpo de bombeiros que tivesse a sua ambulância parada à porta do hospital a aguardar que fizesse triagem ou entrega passagem de maca. Pagaria 28 euros por cada hora", explica à TSF António Nunes.
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A proposta da Liga dos Bombeiros já foi discutida com o Ministério da Saúde, o INEM e a direção executiva do SNS. António Nunes revela que já foi pedida uma segunda reunião à equipa liderada por Fernando Araújo e admite uma posição de força, caso a reunião não se realize até ao final do mês.
"Eu espero que durante o mês de setembro ainda seja possível fazer essa reunião. Se não houver reunião até ao final do mês de setembro, entramos nos incumprimentos, quer dos prazos para aceitáveis para reunir, quer de análise de todo este problema. Aí vamos tomar uma posição mais reivindicativa e vamos dar prazos", adianta.
O presidente da Liga dos Bombeiros afirma que "há sempre uma solução final". "Se as negociações com a Saúde não chegarem a bom termo, nós estamos sempre disponíveis para não transportar doentes do hospital para fora, para as altas hospitalares não serem feitas", atira.
António Nunes assegura que há ambulâncias que chegam a esperar 12 horas à porta das urgências e hospitais com 16 ambulâncias paradas à espera de uma maca.
Gestores dos hospitais dizem que "pagamento por hora não é a melhor solução"
Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, admite que o problema existe, mas não se resolve com a penalização dos hospitais.
"Eu reconheço que o problema existe, particularmente em alguns períodos do ano quando as urgências têm maior procura. Não me parece que o pagamento por hora seja a melhor solução. Eu diria que, em primeiro lugar, nós temos que perceber o que é que está em causa, qual é exatamente o problema, em que hospitais, quanto tempo é que as macas demoram a ser devolvidas, temos que caracterizar e perceber melhor o problema", considera.
"Se estivermos perante uma escassez de espaço ou até uma escassez da própria equipa, não me parece que a penalização financeira vá resolver o problema da melhor forma", vinca.
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Xavier Barreto defende que é preciso fazer um levantamento para perceber as causas do problema, dando um exemplo daquilo que poderia ser melhorado.
"Em muitos casos, também há problemas de organização. Quando os doentes são transferidos entre hospitais, muitas vezes, são transferidos para o serviço de urgência que recebe esse doente. É a partir do serviço de urgência que ele depois é internado. Este é provavelmente um processo que nós já poderíamos mudar, fazer uma transferência direta entre os serviços não fazendo passar pelo serviço de urgência, porque isso acaba por contribuir para esta sobrelotação e para esta retenção das equipas de bombeiros", indica o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, sublinhando que "há questões de organização que podemos melhorar".
"Não serão iguais em todos os hospitais, mas os administradores hospitalares têm também essa responsabilidade de ajudar nessa melhoria contínua dos processos e também na caracterização do problema para ajudar a resolver as causas na sua raiz", acrescenta.
Em resposta escrita enviada à TSF, a direção executiva do SNS indica que vai reunir-se em breve com a Liga dos Bombeiros para discutir as várias dimensões deste problema.