A organização do festival que se realiza no interior do país tem investido na sustentabilidade e considera-se um exemplo mundial de boas práticas ao nível de saúde pública.
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O Boom Festival, que começou em 1997, recebe de dois em dois anos, sempre em anos pares, mais de 40 mil pessoas em Idanha-a-Nova. Apresentando-se como psicadélico, o festival tem um selo de sustentabilidade e movimenta dezenas de milhões de euros na economia do concelho de Idanha-a-Nova, do distrito de Castelo Branco e do país. Os dados são de um estudo de impacto económico pedido pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova à consultora EY.
A presença do público internacional no festival é bastante relevante. "Atualmente o Boom tem cerca de 85% do público vindo do estrangeiro, 15% de portugueses e sempre teve um conceito muito mais talhado para trazer gente de fora do que propriamente cá em Portugal, porque é um conceito muito alternativo", disse esta terça-feira, à TSF, Artur Mendes, que faz parte da equipa Good Mood, que organiza o festival.
O Boom é um festival "cultural, multidisciplinar, que visa o desenvolvimento humano e com um cartaz que nunca é conhecido", referiu Artur Mendes. A matriz eletrónica mantém-se, no entanto a organização refere que o evento consegue abarcar "mais influências, novas latitudes artísticas e ao mesmo tempo fazer do festival um veículo de mudança e de transformação", a partir do momento em que passou a realizar-se no interior, em 2002.
De acordo com Artur Mendes, o estudo feito pela EY mostra precisamente que "é necessário criar não apenas um acontecimento cultural, mas tambémzelar para que no interior se criem conceitos diferenciadores".
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Crescimento e impacto económico na região
Os "boomers" - nome dado às pessoas que visitam o festival - ajudam a dinamizar a região de Idanha-a-Nova. "Há pessoas que gostam de ficar acampadas, outras em caravanas, em hotéis ou em turismo rural", disse Artur Mendes. O estudo demonstra o quão importante é para o evento "o crescimento da oferta hoteleira daquela região", uma vez que o público, o staff e os artistas esgotam tudo.
Nos últimos cinco anos, o maior movimento vem de pessoas de fora que, neste momento, estão a "comprar terrenos na Beira Baixa", havendo assim mais investimento estrangeiro, o que faz com que a organização do Boom sinta que tem "criado uma alavanca de transformação do tecido social daquela região", acrescenta Artur Mendes.
Desde que a atual herdade onde se realiza o Boom foi adquirida, em 2016, a organização tem desenvolvido muitos projetos que decorrem diariamente e que estão relacionados com as problemáticas ambientais. A Good Mood tem contado com o apoio logístico da Câmara Municipal porque o festival "é independente, sem patrocinadores" e não pretende usufruir de "nenhum apoio estatal nem privado". Artur Mendes sublinha que o facto de o Boom ter um impacto económico de 56 milhões de euros na região é porque "está tudo a funcionar, permitindo que o festival se desenrole com sucesso".
Boom, exemplo mundial de saúde pública
Sobre as notícias que apontam para a situação de neste festival existir um consumo excessivo de determinadas substâncias e de elevados casos clínicos, a organização refere que "esse tipo de informações retira a essência do festival, que é a inovação". "As substâncias existem em todo o lado, não são exclusivas do festival", refere Artur Mendes, acrescentando que "a permissividade do consumo dessas substâncias é definida pelos quadros e contextos legais em Portugal".
Artur Mendes reforça ainda que a organização do festival tem investido em projetos de saúde pública, como o KosmiCare que, neste momento, decorre em Lisboa e "demonstra que olhando para outros fenómenos que existem ao nível de saúde pública, tratando-os, curando-os e informando o público, o festival Boom consegue criar boas práticas, sendo um exemplo mundial".
Investimento em workshops e outras atividades
Além da música, o Boom aposta em vários workshops desde a permacultura, educação, comunicação não-violenta, ambiente, arte e ativismo até aos "hands-on", que realçam o conhecimento manual de carpintaria, olaria e trabalho com barro. O objetivo é "o ser humano ir para a natureza e não ter apenas workshops de forma mais intelectual, mas também muito experiencial", referiu Artur Mendes.
Um dos destaques do festival que o grande público desconhece é as práticas ligadas ao ioga, à meditação e às artes marciais. Normalmente, às 8h00 da manhã já há pessoas a praticar estas atividades. "O Boom está associado a música eletrónica, mas na realidade, em termos da área geográfica, o espaço de bem-estar é maior do que as áreas de música", disse.
O Boom conta também com diversas conferências, amostras de cinema e galerias de artes plásticas.
Aposta em comida e bebidas não processadas
Sendo que o Boom não tem marcas associadas, em relação à alimentação e às bebidas, "os restaurantes alugam o espaço e as receitas revertem para eles", refere Artur Mendes. A organização garante que o festival tem uma seleção "muito cuidada" a este nível. Este ano, 85% da alimentação será vegetariana ou vegan, não existindo espaço para as grandes marcas processadas.
A organização aposta também em bebidas "fair trade" e biológicas, destacando o cuidado que pretende ter com a saúde das pessoas que visitam o Boom, devido "à facilidade e destreza em conseguir fazer as coisas de forma independente, tendo uma margem de manobra que outros eventos infelizmente não têm", acrescenta Artur Mendes.
O Boom Festival é uma marca portuguesa, apesar de ser feita com pessoas de todos os pontos do mundo e já tendo realizado vários eventos na Índia, no Brasil, em Israel e em Inglaterra.
Este ano, o Boom Festival realiza-se entre 28 de julho e 4 de agosto e os bilhetes esgotaram em uma hora e meia, sem qualquer cartaz artístico anunciado.
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