Bracarense é a primeira paciente a receber novo fármaco para esclerose múltipla
Ensaio clínico internacional de Fase I está a decorrer no Centro Clínico Académico (2CA Braga), integrado na Unidade Local de Saúde de Braga.
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É bracarense a primeira doente com esclerose múltipla a receber um novo fármaco que poderá parar a progressão da doença que afeta 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo. O ensaio clínico internacional de Fase I está a decorrer no Centro Clínico Académico (2CA Braga), integrado na Unidade Local de Saúde de Braga (ULS e Braga).
Helena Malheiro tem 60 anos e foi, a nível mundial, a primeira pessoa a receber a dose mais alta definida pelo protocolo internacional, 2.000 mg, o que representa um aumento de cerca de 2,85 vezes em relação à dose anterior.
A antiga professora recorda que tudo começou aos 20 anos com formigueiros nas mãos que rapidamente começaram também a afetar as pernas, levando a que começasse a arrastar um pé. Foi acompanhada no antigo Hospital São Marcos, em Braga, e depois no São João, no Porto. Mais tarde, relata dificuldades na interpretação de textos.
Para João Cerqueira, médico neurologista, participar num ensaio com um fármaco “inovador” acaba por ser “um sonho”, visto que esta é uma patologia há vários anos estudada dentro do centro.
“O fármaco consegue entrar muito mais facilmente no sistema nervoso central, pelo menos é isso que prevemos que irá acontecer, e desse modo ter a sua ação ainda mais eficaz no sítio em que ela é necessária. Neste caso, dentro do sistema nervoso central”, explica.
O investigador principal do ensaio acredita que será possível “parar a doença”, uma vez que esta nova molécula, um anticorpo monoclonal (Mab) anti-CD20, irá atuar num dos mecanismos que contribuem para a sua progressão. Além disso, João Cerqueira
espera que este novo fármaco consiga “retroceder” algumas das incapacidades dos doentes.
“Será difícil, mas temos esperança que será possível”, declara.
Durante vários anos, Helena Malheiro confessa ter sofrido com os olhares julgadores de desconhecidos devido aos seus problemas de locomoção. Hoje, apesar de se fazer acompanhar por uma bengala, diz estar “feliz”, pois sente que está a “contribuir para a evolução da medicina”.
No total são 40 os doentes envolvidos no estudo desenvolvido em países como os Estados Unidos da América, Polónia, Alemanha, Bélgica, Israel e Itália. Contudo, foi em Braga, no único centro em Portugal a participar no ensaio, que foi administrada a maior dose deste novo fármaco para a esclerose múltipla.
Além de Helena Malheiro participam mais três portugueses que receberam uma dose de 20mg, a 23 de janeiro. O objetivo, segundo João Cerqueira é alargar a pelo menos mais quatro utentes nesta primeira fase de avaliação da segurança, tolerabilidade, imunogenicidade, farmacocinética e farmacodinâmica desta nova molécula. Após firmar o
novo protocolo poderá ser estendido a mais doentes, de modo a contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida.
Os primeiros resultados serão conhecidos dentro de 6 meses a 1 ano. Por ano, são diagnosticados mais de 800 mil casos no nosso país.
