A Câmara de Lisboa esperava ter 160 novos trabalhadores na recolha do lixo, até ao final desta semana, mas em resposta à TSF, a autarquia admite que a integração só estará concluída em Setembro.
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Pedro Dias é dono de um café de bairro aberto há mais de 50 anos na freguesia de Alcântara.
Nos últimos meses, tem notado uma diferença nas ruas. "É frequente todas as semanas, os caixotes estarem cheios de lixo", descreve. "Parece uma Coca-Cola que se despeja num copo e ela vem toda por fora. É vergonhoso, é lamentável. Lisboa não é uma cidade do séc. XXI, desta maneira. Parece que andámos 30 anos para trás. Alguma coisa vai ter de mudar rapidamente, porque senão, o reflexo vai vir não só para a saúde pública, como acima de tudo, também para o turismo e o reflexo monetário que isso vai ter na economia de Lisboa", vaticina o proprietário do café Dias.
Noutra rua de Alcântara, à porta da oficina que explora há 30 anos, Paulo Costa compara as falhas na recolha do lixo ao "Cabo das Tormentas ou uma dor de cabeça diária". Desde o papel ao cartão e lixo doméstico que se acumula, as ruas enchem-se de "odores, o que é desagradável para quem tem comércio", lamenta o empresário, que resume o estado da higiene urbana em Lisboa: "pessimamente mal".
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As queixas repetem-se há vários meses e enchem a caixa de reclamações da Junta de Freguesia de Alcântara. O presidente, Davide Amado, nota que "houve uma grande alteração". Enquanto antes, as falhas na recolha do lixo eram pontuais, agora "é ao contrário. Pontualmente, há recolha e isso tem causado problemas graves na questão da salubridade e saúde pública", refere o autarca, apelando à Câmara de Lisboa que identifique o problema e arranje uma solução.
Por parte da freguesia de Alcântara, foi reforçada a recolha do lixo junto aos ecopontos e eco-ilhas. "Nós fazíamos duas, três voltas, porque conseguíamos minimizar o problema. Agora, temos de fazer sete a oito (voltas)", revela Luís Barata, responsável pela Higiene Urbana na freguesia. O trabalho mobiliza diariamente, seis pessoas e duas carrinhas, mas o grande trabalho de remoção do lixo cabe à Câmara de Lisboa.
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Luís Barata aponta o dedo ao município. "Sentimos que, de um momento para o outro, mudou tudo. Desde Novembro que parece que a Câmara não nos dá o apoio necessário para que se minimize o lixo e sentimos que está tudo nas nossas costas", queixa-se Luís Barata, com um sublinhado: "só nós não conseguimos. Isto tinha de ser um trabalho de equipa".
A Câmara de Lisboa é responsável pela recolha dos resíduos urbanos, enquanto as freguesias assumem a lavagem das ruas e a remoção do lixo junto aos ecopontos e eco-ilhas. Por esta partilha, o município transfere uma verba que difere de freguesia para freguesia. No caso de Alcântara, a junta recebe 150 mil euros por ano. A primeira fatia - metade do valor - foi transferida na passada quinta-feira, 21 de Julho.
Contactada pela TSF, a Câmara de Lisboa recorda que "tem um plano de contingência para as falhas na recolha de resíduos, estando já a executar o mesmo". Numa resposta escrita, a autarquia salienta que a contratação de funcionários é uma "questão primordial", estando concluído "o procedimento concursal para os 160 (novos) cantoneiros". Destes, mais de 60 já estão a fazer formação e "os restantes terão formação imediatamente a seguir à assinatura dos respetivos contratos". No entanto, a Câmara de Lisboa, que esperava ter os 160 novos cantoneiros até ao final de Julho, admite que a integração só estará concluída em Setembro.
Na nota enviada à TSF, a autarquia explica que "alguns destes novos trabalhadores, por razões várias, solicitaram o adiamento da assinatura dos respetivos contratos, estimando a Câmara Municipal de Lisboa que a totalidade dos 160 novos cantoneiros estejam já integrados em setembro". Nessa altura, deve estar também concluída a contratação de 30 novos motoristas.
Até lá, o plano de contingência prevê "vários reajustamentos operacionais, reforço do serviço nas zonas de maior pressão turística, melhor articulação de trabalhos de limpeza e remoção com as Juntas de Freguesia, ações de sensibilização e fiscalização e renovação e adequação da frota municipal", indica o município. Contudo, a vereadora do PS na Câmara de Lisboa não se mostra convencida.
Em declarações à TSF, Inês Drummond considera que o plano de contingência que a autarquia colocou em marcha, este mês, não está a funcionar. Há muito que a cidade não tinha tanto lixo por recolher nas ruas.
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