A Maternidade Alfredo da Costa e os hospitais de São Francisco Xavier e Garcia de Orta é onde se registam as maiores subidas
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Há cada vez mais bebés a ficarem retidos nos hospitais por não terem casa. O levantamento é feito, esta sexta-feira, pelo semanário Expresso, que revela uma subida na Maternidade Alfredo da Costa (MAC) e nos hospitais de São Francisco Xavier e Garcia de Orta, em Almada.
Só na MAC, o número de recém-nascidos que não tiveram alta por falta de casa quadruplicou em dois anos: foram 28 bebés no ano passado, quatro vezes mais do que em 2022. Tiveram de ficar na maternidade por não terem casa para onde ir. Quase metade das mães estava em situação de sem-abrigo, a maioria imigrantes, algumas ilegais.
A responsável pelo serviço social da MAC adianta ao Expresso que muitas grávidas vivem em condições degradantes: na rua, em garagens, prédios abandonados ou em tendas espalhadas pela cidade de Lisboa. Uma das grávidas vivia mesmo num vão de escada num prédio no centro de Lisboa, onde pagava 150 euros por mês por um colchão e um cobertor.
No Hospital São Francisco Xavier, também aumentou o número de internamentos sociais na maternidade. Foram 26 bebés no ano passado, mais oito do que em 2023. No Garcia de Orta, em Almada, os casos chegaram aos 30, mais cinco do que no ano anterior. No Amadora-Sintra, os números mantiveram-se estáveis.
Outro indicador preocupante: disparou o número de gravidezes não vigiadas. Na MAC, foram 124 no ano passado, mais do dobro do que no ano anterior. As mães ficam internadas com os bebés que não têm alta social, mas quando não há vagas podem ser separados. A MAC admite que isso já aconteceu por falta de respostas.
É uma "realidade muito dolorosa", admite a responsável da MAC, que pede mais recursos para evitar que as mães sejam separadas dos filhos.
Em declarações à TSF, Sara do Vale, da direção da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, afirma que esta é "uma falha enorme" da sociedade portuguesa.
"É bastante preocupante, porque um dos momentos mais vulneráveis da vida é quando as mulheres acabam de ter um bebé e por falta de condições não podem ficar com os seus filhos. Estamos bastante preocupados não só com o impacto social e económico que isto tem na vida destas famílias, mas também pensando no impacto emocional, fisiológico e em termos éticos. São bebés que não serão amamentados, são mulheres que terão mais probabilidade de sofrer uma depressão pós-parto por causa da separação do seu bebé, além da tragédia humana, porque são pessoas que estão a trabalhar, mas não têm condições de pagar uma renda. É uma falha enorme", explica à TSF Sara do Vale, esperando que o problema seja abordado na próxima campanha.
"É uma realidade, por um lado, nova, apesar de sempre ter havido dificuldades, já nos deparámos com alguns casos, mas em onze anos de trabalho da associação este é o primeiro ano que isto acontece. A crise da habitação é gritante e esta próxima eleição é uma oportunidade de pensarmos que sociedade queremos construir", acrescenta.
Notícia atualizada às 10h00