“Cada vez mais o projeto do lítio no Barroso é bem compreendido a nível regional”
O presidente da Savannah Resources diz, numa entrevista à TSF e ao Jornal de Noticias, que a construção da mina de extração de lítio começa no próximo ano e a exploração em 2027. Emanuel Proença adianta ainda que 15% do capital da empresa já é português
Corpo do artigo
Emanuel Proença tem 40 anos. Fez-se engenheiro de gestão industrial no Instituto Superior Técnico de Lisboa e acrescentou conhecimento noutras escolas. Trabalhou como consultor e já liderou uma das maiores empresas do mundo de transformação de cortiça (Grupo Piedade), a Prio, e é agora o CEO da Savannah Resources, a concessionária da exploração de parte do lítio no Barroso.
Uma mina a céu aberto é uma cratera na paisagem. A Savannah vai transformar o Barroso em várias crateras?
De forma nenhuma, mas é uma boa provocação e uma boa forma de começar. Compreendo a imagem e compreendo que se construa essa ideia. Agora, a evidência é que não. Há muitas minas a céu aberto pelo mundo fora, há bastantes minas a céu aberto também na Península Ibérica. A realidade daquilo que nós vamos fazer no nosso projeto do lítio no Barroso é uma realidade totalmente compatível com a construção de um Barroso que continua a ter orgulho nas suas origens, continua a ter orgulho da sua paisagem e do seu espaço. Evidentemente que no período temporário em que há uma área de trabalho a céu aberto, há ali um impacto na imagem daquele espaço. Estamos num vale de muitas centenas de vales que compõem o Barroso, estamos numa área azul na ponta sul da área do Barroso, que é constituída pelo município de Boticas e pelo município de Montalegre. Nessa ponta sul estamos a trabalhar numa área que ao dia de hoje é uma floresta industrial de pinho. O nosso projeto não obriga à relocalização de ninguém, não obriga à movimentação de nenhuma estrutura estabelecida e é totalmente compatível com a continuação de vida tal como ela existe hoje. Espero que seja potenciadora de vida tal como ela existe hoje, porque o projeto será um elemento de atração de população e de retenção de população, que é muito importante para uma região que nas últimas décadas tem visto retrair a sua população com muita imigração e, portanto, acho que não só faremos um projeto que é totalmente compatível com aquilo que existe ao dia de hoje no local, como potenciaremos aquilo que existe ao dia de hoje e a vida naquilo que existe ao dia de hoje, precisamente dando oportunidade às populações barrosãs. Eu compreendo que se gere receios de que o projeto possa criar um impacto paisagístico irremediável, que possa ter impacto nas águas, que possa criar poluentes, possa criar pó, ruído e por aí adiante. Portanto, consegue-se criar este tipo de mensagens alarmistas de forma muito fácil e abrangente. Cabe-me a mim explicar que não é bem assim, que a realidade não é bem assim.
Na Grande Entrevista TSF-JN desta semana, Emanuel Proença explica que o nível de oposição ao projeto, especialmente na localidade de Cavas do Barroso, no último ano, tem estado a diminuir e há agora uma maior compreensão por parta das instituições locais e regionais. O presidente executivo da Savannah Resources acredita que os esforços da empresa em explicar o projeto tem tido bons resultados.
A compra de parcelas tem decorrido normalmente. Emanuel Proença diz que “até agora comprámos todos os terrenos seguindo as mesmas regras e acho que isso também é importante: fazer um tratamento uniforme e pagar valores muito acima dos valores normais de mercado, que acho que também é uma coisa boa para quem vende”. O presidente da empresa concessionária da exploração do lítio em Boticas explica que “já são mais de 100 as parcelas compradas na área concessionada por valores acima da média do mercado”. Sobre a resistência à venda, Emanuel Proença sublinha que, “apesar dos processos serem por acordo de normal negociação”, admite passar a utilizar instrumentos legais que normalmente são aplicados nestes processos, como é o caso da expropriação das parcelas. O que o gestor da Savannah recusa e considera “difamatórias” são as denúncias de apropriação de terrenos baldios.
Nesta entrevista, Emanuel Proença assume que a operação influencer e as suspeitas geradas sobre corrupção no licenciamento da exploração do lítio em Portugal criou danos de reputação. No entanto, promete continuar a trabalhar para reparar esses danos e mantém total disponibilidade para todos os esclarecimentos que forem solicitados por todas as instituições.
Quanto aos investidores, o capital tem estado a aumentar e já ultrapassa os 40 milhões de euros, quando só no próximo ano vai ser iniciada a fase de construção da mina. Emanuel Proença confirma que a Savannah é uma empresa de direito inglês, que está cotada na bolsa inglesa, e que tem uma subsidiária portuguesa. Apesar de ser de direito inglês, “já é cerca de 15%, ou perto de 15% portuguesa. Também é perto de 12% alemã”.
A negociação com parceiros e investidores ainda não permite ir além dos processos de intenção quanto à localização - ou não - em Portugal de uma ou mais refinarias de lítio. Ou seja, não é de afastar o cenário de o lítio do Barroso ser exportado diretamente, depois de extraído, para ser refinado numa refinaria estrangeira, na Europa, ou noutra região.
O que Emanuel Proença destaca são as projeções internacionais para esta fileira do lítio: “O mundo precisará ao longo dos próximos 15 anos de construir cerca de 200 gigafactories - 200 fábricas de grande dimensão de produção automóvel elétrico. São fábricas que estarão na dimensão do que é uma Autoeuropa hoje, em capacidade produtiva.” Para o presidente da Savannah, “se pegássemos no que é a quota que a Savannah pode ter de produção de base de lítio a nível mundial e a transpuséssemos para esses 200, implicaria que Portugal poderia atrair até perto de 5 gigafactories para o país”. A conclusão do gestor é que “o impacto do desenvolvimento económico que lhe está associado e a atenção que se gera à volta deste setor e desta fileira não é inocente, porque quem compreende todo o aparelho produtor de veículos que já temos ao dia de hoje para elétrico e que se trouxéssemos mais uma, duas, três Autoeuropas, seria já absolutamente fantástico e seria um passo enorme no sentido de termos um Portugal mais competitivo e mais próspero”.
