Câmara de Lisboa defende necessidade de criar ocupações diurnas para sem-abrigo
O vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa defendeu hoje que devem ser criadas formas de ocupar o dia-a-dia dos sem-abrigo da cidade, que se encontram desempregados e com tempo livre.
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«As pessoas vão ocupando o seu tempo a arrumar carros, um biscate aqui e ali, a fazer umas obras, a carregar caixotes... Mas neste momento nem esses biscates conseguem arranjar, portanto uma das falhas é a ocupação diurna», afirmou o vereador João Afonso, que falava aos jornalistas após uma visita a alguns espaços que apoiam os sem-abrigo na cidade.
Segundo João Afonso, esta "lacuna" pode ser resolvida com a criação de espaços como o Núcleo de Apoio Local (NAL), um projeto iniciado em setembro de 2013 em Arroios (e gerido pelo Centro Social e Paroquial de São Jorge de Arroios), onde é possível encaminhar sem-abrigo para outros serviços de apoio, após um atendimento personalizado.
Para além disso, o NAL também permite que as organizações que fazem distribuição alimentar tenham um sítio para o realizar dentro de portas, num sítio «digno e reconfortante», referiu o autarca.
João Afonso adiantou que a autarquia está à procura de espaços em zonas como o Cais do Sodré/Santos, a Avenida da Liberdade/Martim Moniz, Saldanha/Avenidas Novas, Santa Apolónia/Campo das Cebolas e Olivais/Parque das Nações, para replicar o projeto.
Já o Espaço Aberto ao Diálogo, gerido pela Comunidade Vida e Paz, tem o intuito de ocupar os tempos livres com atividades como grupos de partilha e ajudar a resolver problemas burocráticos (acompanhando o sem-abrigo, por exemplo, numa ida ao médico ou a uma loja do cidadão para tratar da devida documentação), explicou a técnica Isabel Oliveira.
No que toca à alimentação, um dos principais apoios é o Centro de Apoio Social dos Anjos, onde funciona um refeitório que serve em média 250 almoços e 160 jantares, gerido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Ali também se pode tomar um duche, lavar a roupa, participar em 'ateliers' diurnos e aceder ao computador. Existe ainda um centro de alojamento temporário, onde estão 15 homens entre os 65 e os 75 anos.
O espaço é conhecido pela "sopa dos pobres", designação que a responsável pelo espaço, Ana Sofia Branco, rejeita, já que tem «o menu completo» e não apenas sopa.
Quanto ao alojamento, o diretor técnico da Associação de Albergues Noturnos de Lisboa, Paulo Ferreira, indicou que ali pernoitam atualmente 55 homens, alguns dos quais preenchem o dia cuidando da horta e das galinhas e a fazer pequenas obras no espaço.
A recentemente criada Unidade de Unidade de Atendimento à Pessoa Sem-abrigo (UAPSA) da SCML visa coordenar algumas destas respostas.
A unidade agrega 16 instituições da cidade, através do Núcleo de Planeamento e Intervenção para a Pessoa Sem Abrigo, num total de cerca de 30 técnicos (como assistentes sociais e psicólogos).
A coordenadora do núcleo, Celeste Brissos, adiantou que todos os dias ali aparecem 10 novos casos.
Segundo o vereador João Afonso, este apoio dado aos sem-abrigo vai para além do plano de contingência que é ativado quando as temperaturas se situam abaixo dos três graus durante dois ou mais dias consecutivos, pois "durante o ano todo há pessoas e instituições a trabalhar de forma organizada na cidade".