Câmara de Lisboa quer abater 25 jacarandás para construir parque de estacionamento, milhares de cidadãos contestam
A petição “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro” já conta com mais de 30 mil assinaturas
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A Câmara de Lisboa pretende abater 25 jacarandás e transplantar outras 22 árvores na Avenida 5 de Outubro, para construção de um parque de estacionamento subterrâneo, o que motivou uma petição contra esta decisão, com mais de 30 mil assinaturas.
Contra a decisão de abater árvores, está em curso a petição “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro”. Os signatários condenam o abate destas árvores e a “falta de transparência na planificação da construção deste parque de estacionamento subterrâneo, em especial num local que se tem transformado cada vez mais numa ilha de asfalto, cimento, pó, automóveis e barulho, sem grande solução à vista por parte da CML”, recordando a petição “Entrecampos com mais segurança rodoviária e pedonal”.
Nuno Prates, um dos signatários da petição formado em gestão de património cultural e jardineiro autodidata, não mora na zona, mas diz ter ficado contagiado com a ansiedade dos moradores que foram confrontados com folhas A4 nos troncos das árvores a alertar para o abate, justificado por questões de urbanismo. À TSF, Nuno Prates afirma que o primeiro passo é perceber as intenções da Câmara Municipal de Lisboa, desde logo, a data prevista para o corte dos jacarandás.
"Queremos saber a data certa, porque no site da Câmara Municipal o abate está agendado entre 7 de março e 7 de junho. Ora, no calendário, é um intervalo demasiado grande. Não pode haver policiamento popular, por assim dizer, que consiga proteger ou protestar de alguma maneira. Fizemos a petição e foi entregue hoje [segunda-feira] um pedido de esclarecimentos da parte da população", explica à TSF Nuno Prates.
O signatário estranha a decisão do abate, visto que não há falta de espaço na zona. Relativamente à transplantação de 25 jacarandás, Nuno Prates alerta que as hipóteses de sobrevivência destas árvores não são elevadas.
"Visualmente, o manto já está estabelecido, as pessoas estão habituadas a percorrer aquela avenida e ver aquela densidade. A floração do jacarandás é em maio-junho. Ora, se está agendado para essa altura fazer uma transplantação de árvores que estão em plena floração não me parece que seja muito sensato", sublinha.
No âmbito das intervenções no arvoredo municipal, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) informou no ‘site’ da autarquia que na Avenida 5 de Outubro se prevê, entre março e junho deste ano, a “remoção de 47 árvores, das quais 22 serão transplantadas para outras áreas verdes da freguesia [de Avenidas Novas], não reunindo, as restantes, condições para transplante”.
“Esta é uma intervenção no âmbito da operação urbanística de Entrecampos, necessária para a concretização da Unidade de Execução de Entrecampos e construção de um estacionamento subterrâneo na Avenida 5 de Outubro”, lê-se na informação disponibilizada pela CML.
A ficha técnica do arvoredo que sustenta esta informação confirma que há 25 jacarandás a abater, a maioria por apresentar lesões, e há outras 22 árvores, sobretudo jacarandás, a transplantar para outras áreas verdes, revelando ainda que há árvores que se irão manter na Avenida 5 de Outubro, mas sem precisar quantas.
A este propósito, a Direção Municipal de Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia (DMAEVCE) reforça que os trabalhos deverão ser executados por uma empresa profissional especializada na matéria e destaca a preparação das árvores para transplante, contribuindo para o aumento da taxa de sucesso dos transplantes.
“Em caso de insucesso do transplante, deverá esse exemplar ser substituído por árvore ou árvores com características equivalentes, considerando todos os serviços de ecossistema disponibilizados ou, caso não seja possível, deverá ser ressarcido o município, utilizando o método da Norma de Granada para atribuir valor monetário ao espécime”, determina a CML.
Em causa está a Operação Integrada em Entrecampos, nos antigos terrenos da Feira Popular, no âmbito de uma hasta pública realizada em 2018, tendo depois sido aprovada em 2019 a construção de um parque de estacionamento subterrâneo.
“Já em 2022, na sequência da constatação de constrangimentos à execução do programa da unidade de execução, foi celebrado um acordo endoprocedimental, entre o município de Lisboa e o promotor”, recorda a CML, referindo que esse acordo serviu para, em cooperação, se ponderarem as soluções mais adequadas para conciliar o desenvolvimento das operações urbanísticas com a preservação e o reforço da estrutura arbórea existente.
Das 75 árvores existentes neste troço da Av. 5 de Outubro, de acordo com a autarquia, que pretendeu “preservar o máximo de exemplares possível do eixo arborizado existente” e garantir condições para a implantação de um novo alinhamento arbóreo, 30 serão para manter, 20 para transplantar na envolvente e 25 para abater, determinando-se ainda a plantação de 39 novas árvores, o que perfaz um total 89 árvores.
“Como medida mitigadora, a DMAEVCE, em articulação com os projetistas, propôs ainda a introdução de arvoredo nos passeios laterais da Av. 5 de Outubro e na rua da Cruz Vermelha”, num total de 59 novas árvores, refere a câmara.
Com o arvoredo atual e futuro, este troço da Av. 5 de Outubro passará a ter um total de 148 árvores (incluindo 20 transplantes para áreas adjacentes), de acordo com a autarquia.
No domingo, numa publicação na rede social X, a CML disse que “a Avenida 5 de Outubro vai ficar mais verde e com mais árvores”, explicando que a intervenção vai construir o novo parque de estacionamento público de Entrecampos e, “no final, será duplicado o número de árvores, o que contrasta com o plano original para a zona, que previa o corte de todas”.
