Caminheiro português completa trilhos do mundo em nove meses em nome da proteção do Côa
Fábio Inácio regressa a casa, após percorrer 8300 quilómetros em cinco continentes, numa aventura com contratempos, mas finalizada com sucesso: angariou mais do que um euro por quilómetro. Entregou este donativo à Rewilding Portugal, organização sem fins lucrativos com foco na preservação das espécies no Vale do Côa
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A aventura terminou, este mês de julho, para o caminheiro português que aos 40 anos fez 8300 dos 8600 quilómetros — que se tinha proposto à partida — pelos principais trilhos dos cinco continentes.
Visivelmente cansado, mas satisfeito, Fábio Inácio chegou ao Côa, a última etapa de uma viagem iniciada em novembro do ano passado. Aqui, entregou um cheque com valor superior a 8500 euros, mais do que um euro por quilómetro, à Rewilding Portugal, a organização sem fins lucrativos que trabalha na proteção das espécies, outra das causas que apadrinha.
À TSF, reconhece que uniu paixões: a fotografia, a caminhada, a natureza e as viagens pelo mundo. É caminheiro profissional e despediu-se há 10 anos para iniciar as suas viagens pelos trilhos mais íngremes do planeta. Começou por fazer o trilho do Pacífico, que acabou por ser o ensaio para esta viagem maior que agora termina.
Histórias não faltam desde o início desta aventura. No Nepal, contraiu Dengue e esteve de quarentena durante 10 dias. Após a convalescença, em novembro de 2024, saiu de Katmandu rumo às montanhas do Evereste.
Depois foi de avião até à Nova Zelândia, onde se perdeu entre vulcões e vales. Também apanhou sustos com o brilho dos olhos dos animais durante a noite, e teve alucinações, confessa à TSF, por ter estado 48 horas sem dormir.
Nas terras do mundo não foi difícil de chegar à Patagónia. Andou de barco até à Argentina, mas foi no Chile que passou mais tempo, devido a uma dor de dentes, que o atormentou até chegar à aldeia em que havia dentista para lhe fazer uma desvitalização.
Depois foi até Atlanta, para fazer o trilho dos Apalaches, desde a capital da Georgia a Maine. Cruzou-se com sete ursos, uma cria que ainda recorda com ternura e o último encontro já foi perto de Nova Iorque. O animal ainda olhou para ele, mas foi-se embora para a floresta.
Da viagem traz recordações da arte de bem receber do povo nepalês e da ajuda do povo norte-americano que vai deixando bens, como snacks e chocolates, nas caixas colocadas ao longo do trilho mais agreste da América do Norte. Um percurso muito concorrido por caminheiros de diferentes partes do mundo. Fábio conta que encontrou todo o tipo de pessoas: extremistas de direita e de esquerda, fundamentalistas religiosos, como aquele homem que lhe deu boleia e lhe disse que quem não acredita em Deus deveria morrer. Mentiu para descer do camião são e salvo.
Por estes dias, Fábio Inácio descansa em casa com a família, numa localidade do oeste português, região que adora. Em setembro, quer ir trabalhar numa cabana nas montanhas da Suíça. Só depois vai pensar no que fazer a seguir, mas não esconde o entusiasmo de querer voltar, por exemplo, à Jordânia. Quem sabe, poderá fazer os trilhos das cavernas entre os rios Tigre e Eufrates, explorar o que resta da antiga Mesopotâmia.
Estas e outras histórias do que encontrou pelo caminho durante os nove meses de viagem podem ser encontradas na sua página na internet: walkingaround.pt.
