Campo de tiro em Mértola "deitaria por terra todo o desenvolvimento" e território "frágil não pode servir para experiências"
A Associação de Defesa do Património de Mértola pede às câmaras municipais de Mértola e Serpa que não baixem os braços, apesar de reconhecer que estas são zonas com "pouco peso político". Contactado pela TSF, o Ministério da Defesa garante que "não há nenhuma decisão tomada ainda relativamente ao próximo campo de tiro"
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A Associação de Defesa do Património de Mértola defendeu esta terça-feira que a eventual mudança do campo de tiro de Alcochete para o concelho irá "deitar por terra tudo o que foi construído em termos de desenvolvimento nos últimos 40 anos", alertando, por isso, os decisores políticos para o facto de existem territórios cuja fragilidade "é de tal ordem que não podem servir de experiências".
A informação de que a construção do novo aeroporto em Alcochete levará a uma deslocação do campo de tiro da Força Aérea Portuguesa para Mértola foi avançada esta terça-feira pelo Jornal de Negócios. Contactado pela TSF, o Ministério da Defesa garante, contudo, que "não há nenhuma decisão tomada ainda relativamente ao próximo campo de tiro".
Em declarações à TSF, Jorge Revez, presidente da Associação de Defesa do Património de Mértola, não esconde o desagrado com esta possibilidade e, por isso, exige uma espécie de discriminação positiva para um concelho que precisa de atrair população.
"Uma infraestrutura destas a acontecer, e esperemos que não aconteça, deitará por terra tudo aquilo que se foi construindo em Mértola em termos de desenvolvimento nos últimos 40 anos. Os nossos decisores políticos têm de entender que há territórios que a sua fragilidade é de tal ordem que não podem servir de experiências", evidencia.
Afirma, por isso, que Mértola "é um desses territórios" que merece maior proteção por parte do Estado português, já que este concelho "não tem propriamente grandes oportunidades de um determinado tipo de desenvolvimento".
"Não tem fábricas, não tem indústrias, os solos são praticamente todos - 97% - de classe B, C e D, sem serem próprios para a agricultura. Mas construiu-se em processo de desenvolvimento na única janela de oportunidade que tinha e tem, que é exatamente o património, a cultura e o ambiente", argumenta.
Jorge Revez nota que o Exército "tem já umas largas dezenas de hectares" em São João Dos Caldeireiros e, por isso, este será "o sítio mais provável" para receber a nova infraestrutura. Ora, tal situação acarreta um outro problema de especial relevância: pode estar em causa a sobrevivência da fauna deste território.
"O lince-ibérico é uma delas. As aves estepárias, que existem em toda aquela zona, que se prolonga para os campos brancos de Castro Verde, e que tem que ver com a zona de São João dos Caldeireiros. O tartaranhão-caçador e mesmo o abutre do Egito, temos alguns ninhos, sobretudo do abutre negro, que é extremamente raro", nota, acrescentando que estas espécies têm "tendência a desaparecer" com esta obra.
Com o desaparecimento destes animais, perde-se também a "especificidade de Mértola". Para o presidente da associação, este é um problema grave: "Ninguém vem visitar um território onde está um campo de tiro instalado."
Lembra igualmente que em São João dos Caldeireiros, "que é mesmo propriedade do Estado", já esteve previsto "há umas décadas" a "mesma situação" de deslocar o campo de tiro. Ainda assim, nota que os territórios entre Mértola e Serpa poderão ser também alvo de interesse.
Já sobre se este processo pode ser revertido, o presidente da associação assume-se pessimista. Ainda assim, desafia as câmaras municipais de Mértola e Serpa a não baixarem os braços.
"Não estou inteiramente confiante de que as câmaras municipais tenham a coragem de afrontar este processo. Espero bem que sim, obviamente, mas não estou completamente confiante, até porque, sabemos no caso de Mértola e mesmo incluindo Serpa, são territórios com muito pouca população", justifica, lamentando que o "peso político" destes territórios seja "praticamente nulo",
"E o peso político acaba por determinar as decisões destes deste género e ainda mais sendo o Exército. Sabemos que o Exército tem sempre uma última palavra, por questões de segurança e estratégicas, que são sempre chamadas à baila quando é necessário", reconhece.
