Avaliação dos cuidados de oncologia em Portugal é feita num inquérito a 600 profissionais da área. Grande maioria diz que direitos dos doentes dificilmente são cumpridos e que o país não está preparado para o previsível aumento de casos.
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Mais de dois terços dos profissionais de saúde que trabalham na área do cancro acham que Portugal não está preparado para responder ao crescimento da doença previsto para os próximos anos. A maioria acredita ainda que nem todos são tratados de igual forma e discorda da ideia que os doentes oncológicos recebem tratamentos de acordo com as recomendações internacionais.
As conclusões são de um inquérito que ouviu 600 médicos, enfermeiros e outros profissionais da área oncológica. O estudo, feito em parceria com a Sociedade Portuguesa de Oncologia, será apresentado hoje em Évora nos Encontros da Primavera, uma das maiores reuniões que se realiza anualmente no país para debater a doença.
Os resultados mostram que 82% destes profissionais de saúde defendem que o governo não fez o "investimento necessário para que os doentes tenham acesso às terapêuticas mais avançadas e eficazes". Esta é uma das opiniões mais consensuais entre os inquiridos. A outra, com números semelhantes (83%), é que, em Portugal, conforme o hospital, há grandes diferenças entre os tratamentos dados aos doentes, nomeadamente devido a "demasiadas assimetrias regionais" que afetam a prevenção e o tratamento (opinião defendida por 74%).
Há ainda uma maioria de profissionais de saúde (64%) que discordam da frase que diz que os doentes oncológicos têm, em Portugal, "tratamentos de acordo com as recomendações internacionais e o estado da arte". E 62% concordam com a frase que diz que quem tem cancro é "muito maltratado do ponto de vista dos direitos, sendo-lhe exigidas demasiadas burocracias para que consiga obter o que está previsto na lei".
Apesar das opiniões anteriores, apenas 40% dizem que Portugal não tem os mesmos tratamentos oncológicos que existem no resto da União Europeia (pelo contrário, 55% defende que sim).
No topo das maiores dificuldades apontadas à luta contra o cancro estão a falta de profissionais nos cuidados de saúde (74%), a inexistência de um programa de rastreios organizados a nível nacional (68%) e a falta de conhecimentos da população sobre o tema (62%).
Em jeito de conclusão, 71% dos inquiridos considera ainda que o país não está preparado para o aumento de casos de cancro que os especialistas prevêem, com grande certeza, para os próximos anos. Um cenário que leva os profissionais de saúde a criticar não apenas o governo, mas também a sociedade que, para 61%, não tem uma preocupação em integrar os doentes oncológicos.