Cansaço extremo e sem medicina no trabalho: mais de 50% dos magistrados portugueses em risco de burnout
É uma das conclusões do "Estudo sobre condições de trabalho, desgaste profissional e bem-estar dos magistrados do Ministério Público portugueses”. O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público alerta que o cansaço extremo dos profissionais tem consequências nos serviços prestados aos cidadãos
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Cansaço extremo, sem consultas de medicina no trabalho e quase cem profissionais em baixa médica. É este o cenário laboral dos magistrados do Ministério Público divulgado num trabalho coordenado pelos investigadores Paula Casaleiro e João Paulo Dias. O estudo resulta de um acordo entre o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP).
Em declarações à TSF, o presidente do SMMP, Paulo Lona, refere que o estudo conclui que “mais de 50% dos magistrados no MP estão em risco elevado ou muito elevado de burnout” e alerta que este cansaço extremo “tem consequências no serviço [de justiça] prestado aos cidadãos”.
Para João Paulo Dias, um dos coordenadores do estudo, os tribunais estão longe das condições de trabalho exigidas pelo Estado e no setor privado. “São profissionais a quem devia ser obrigatório a realização de exames de medicina de trabalho, como qualquer trabalhador”, destaca, em declarações à TSF. Paulo Lona concorda com o investigador e alerta que “não há qualquer tipo de medicina de trabalho hoje em dia que seja prestado aos magistrados do MP, em qualquer plano de plano e saúde que permita acautelar este tipo de situações, nomeadamente através de gabinetes de acompanhamento psicológico”.
A dificuldade em recrutar magistrados também é uma das razões que prejudica as condições de trabalho e, consequentemente, a sua saúde. O responsável do sindicato considera que o número atual de magistrados em serviço não é suficiente para o trabalho existente. Questionado pelas razões desta falta de profissionais, Paulo Lona aponta que a carreira de magistrado já não é atrativa, o que leva a um menor número de candidatos. “Por outro lado, o número de magistrados que estão efetivamente ao serviço não é suficiente para preencher todas as vagas, e isso obriga a que haja um esforço suplementar de vários outros magistrados que estão em situações de acumulação de serviço excessivas”, acrescenta, adiantando que a situação é agravada com as baixas médicas dos profissionais.
Os resultados do estudo são divulgados esta tarde, no Centro de Estudos Judiciários, em Lisboa. Depois da apresentação, Paulo Lona diz que o SMMP vai trabalhar para que sejam postas em prática as recomendações da investigação, entre elas a implementação da medicina do trabalho e do gabinete de apoio psicológico.
