"Cansadíssimo" em Lisboa, Papa não perdeu humor: "'O senhor é o responsável?' Eu disse que sim. 'Então, os outros são irresponsáveis?'"
O diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e Diálogo Interreligioso do Patriarcado de Lisboa revela no Fórum TSF histórias que viveu com o Papa Francisco
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O Papa Francisco deixa várias heranças, uma delas é, seja qual for a religião, os homens são todos irmãos. Quem o sublinha, no Fórum TSF desta segunda-feira, é o padre Peter Stilwell. O diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e Diálogo Interreligioso do Patriarcado de Lisboa conta também histórias que mostram o homem que era o chefe da Igreja Católica.
O Papa Francisco morreu, esta segunda-feira, aos 88 anos, anunciou o Vaticano.
O mesmo responsável salienta os dois "critérios" necessários para promover diálogo entre religiões: "Um é olhar o outro com profundidade, pois, olhando com profundidade, descobrimos que para lá daquilo que nos diferencia, somos todos irmãos, todos peregrinos, caminhamos todos em direção a Deus. O segundo convite é, dizia ele, cuidai dos vínculos de amizade, de atenção, de reciprocidade, que nos permitem avançar unidos na defesa da dignidade humana, na luta contra a pobreza, na promoção da paz. De facto, estes eram dois critérios que o Papa seguia na sua vida pessoal."
Peter Stilwell teve a "alegria" de encontrar-se com o Papa na altura da Jornada Mundial da Juventude.
E conta que o chefe da Igreja Católica chegou, uma vez, "cansadíssimo" após várias reuniões com diversas entidades e mesmo assim conseguiu despertar o riso a todos na sala: "Eu perguntei-lhe: 'Santo Padre, quer que eu apresente estas pessoas?' Para lhe dar um momento de respiração. Ele disse que sim. 'O senhor, então, é o responsável?' Eu disse que sim. 'Então, os outros são todos irresponsáveis?' Descontraiu o ambiente."
Em 2020, quatro anos após o encontro do imã da Mesquita Alazar, no Cairo (Egito), com o Papa, nasceu a encíclica Fratelli tutti, fruto também de um almoço inesperado em Santa Marta (Vaticano) entre ambos. Este episódio mostra o "jeito" de Francisco para "contactar diretamente com as pessoas" e, consequentemente, "construir de pontes e de paz". Apesar dos seus esforços, "infelizmente", a guerra continua.
"Em 2022, uma alta individualidade da Arábia Saudita confidenciou-me em Lisboa, quando houve aqui uma reunião, quando soube que eu era um padre católico, que se tratava hoje de salvar a humanidade. Não tanto de salvar nem o Cristianismo, nem o Islão, mas de salvar a humanidade e que o Papa Francisco era o único dirigente a nível mundial capaz de congregar vontades de todos os quadrantes para essa tarefa espiritual e política."

