Capacidade "regenerativa" e de "restauro". Como o musgo pode dar uma nova vida aos solos depois dos incêndios
O musgo pode evitar deslizamentos de terras, quando, depois das chamas, chega a chuva. O projeto de investigação é da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
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A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa está a desenvolver um projeto que pretende investigar como o musgo pode ajudar a dar uma nova vida aos solos após a passagem das chamas, "regenerando" essas áreas e promovendo o "restauro ecológico".
Em declarações à TSF, Cristina Branquinho, uma das investigadoras envolvidas no projeto, explica que o musgo pode evitar deslizamentos de terras, quando, depois dos incêndios, chega a chuva, tal como está a acontecer nos últimos dias nas regiões norte e centro.
"Os musgos fazem parte de um conjunto de organismos que existem no solo e que, normalmente após o fogo, também arderam. Ou seja, nós olhamos para o fogo e pensamos na destruição das árvores e dos arbustos. Mas não é só isso que acontece. Há também a pele do solo, que cobre o solo e que arde. Ardem musgos, líquenes e cianobactérias", esclarece a investigadora, sublinhando que a pele do solo "evita a erosão, que os rios fiquem cheios sedimentos e aumenta a infiltração da água para o solo, o que faz com que haja mais água subterrânea, tanto para consumo humano como para a agricultura".
"Ao reduzir esta escorrência superficial, evitamos as enxurradas e os deslizamentos de terras que ocorrem muitas vezes após os fogos e que depois vão diminuir qualidade da água superficial das linhas de água, dos rios e das ribeiras. Além disso, são organismos que contribuem para a fertilidade do solo", afirma, acrescentando: "Quando existem os fogos, estes organismos são destruídos, e muitas vezes também são os primeiros a surgir após o fogo. É muito importante que quando depois se fazem ações de reflorestação, muitas vezes muitos meses mais tarde, não se volte a mobilizar o solo, porque esta pele do solo, entretanto, já se reconstruiu e já está a proteger o solo."
São vários os estudos que indicam que organismos como o musgo, nomeadamente o de Natal, são capazes de reduzir a erosão do solo. De acordo com o sistema europeu Copernicus, os incêndios que assolaram Portugal durante o mês de setembro queimaram 135 mil hectares de floresta e destruíram dezenas de casas.
