Já são dos mais conhecidos do país, mas com a distinção da UNESCO, podem passar a ser conhecidos em todo o mundo.
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Os caretos de Podence estão na calha para serem património da humanidade. Uma distinção para uma tradição ancestral que os caretos da aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, teimam em repetir e preservar na altura do carnaval. Os fatos coloridos feitos de colchas de franja vermelha, verde e amarela, os chocalhos à cintura, um cajado e as máscaras de latão transformam, quem os veste em seres enigmáticos, que dão saltos e gritos, e chocalham as raparigas.
Quem entra no restaurante da casa do Careto, no meio da aldeia de Podence, dá de caras com uma grande fotografia a preto e branco de um careto em primeiro plano, na parede em frente. Não se sabe ao certo quem está por detrás daquela máscara. Sabe-se que foi tirada pelo etnólogo Benjamim Pereira algures nos anos 60 do século passado. Para lá da figura mascarada vêm-se galinhas, perus, casas e a igreja ao fundo da rua. O relógio grande e branco marca sete e um quarto da manhã.
Começou bem cedo a folia do careto naquele dia e naquele ano como começaram estas tradições lá para o princípio do mundo, diz a socióloga Patrícia Cordeiro, " há registos destes rituais no Paleolítico em várias partes da Europa".
Foi ela que deu vida à candidatura que agora faz saltar os rituais dos caretos da aldeia de Podence para o mundo. Diz que não foi fácil buscar-lhe o passado mas também acredita que é mais importante o que aí vem. "Poderá ser uma ajuda para verem a região de uma forma mais positiva"
Assim também pensa Miguel Malta. O agora responsável do restaurante da casa do careto em Podence é filho de emigrantes e careto desde que se lembra. Diz que o reconhecimento da UNESCO trará mais gente à região. "Já vem muita gente e com certeza que agora virão mais turistas".
À entrada da aldeia de Podence, Filipe Costa e a namorada têm um ateliê onde fazem fatos de caretos, máscaras e pequenas peças de merchandising. Também ele é careto. "No carnaval vem sempre uma enchente de gente ver os caretos, no verão também por causa do Azibo (albufeira com duas praias) e passam por aqui. Agora isto vai crescer ainda mais", assinala.
E esse crescimento junto com a distinção trás também muita responsabilidade, diz António Carneiro, presidente da Associação dos Caretos de Podence. "Porque daqui a quatro anos, o comité da UNESCO vem verificar se está tudo de acordo com a candidatura que fizemos. É uma grande responsabilidade".
E quando vier, António Carneiro quer já ter ali no meio da aldeia um espaço digno da tradição de Podence e para todos os caretos da região transmontana. "Será as Varandas do Azibo e a Casa dos Caretos do Nordeste Transmontano. Queremos agregar tudo o que são os rituais de inverno nesta região".
Para isso, o presidente dos caretos já tem o sim dum arquiteto que está nível da distinção que agora chega da UNESCO. " É o arquiteto Souto de Moura".
António Carneiro salienta que a Podence, principalmente nos últimos carnavais, e mesmo durante todo ao ano, vêm turistas de várias partes do mundo mas agora há de ser diferente, para melhor, e lembra a quem de direito que é preciso estarem preparados para os receber. "O poder autárquico tem que olhar para isto e para a aldeia de outra forma em termos das condições logísticas que Podence necessita".
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