Carlos Cortes avisa novo Governo: "Próximo mandato da Ordem dos Médicos vai ser de tolerância zero à passividade"
À TSF, o bastonário salvaguarda que há uma "via sempre privilegiada": a do diálogo. E prefere creditar que existe "muito boa vontade das pessoas que têm responsabilidades políticas". Ainda assim, garante que há "outras vias de intervenção" a que está disposto a recorrer, caso o diálogo "não funcione"
Corpo do artigo
O bastonário da Ordem dos Médicos avisa o novo Governo de que no próximo mandato terá "tolerância zero para a passividade" do Ministério da Saúde e dos políticos.
As declarações de Carlos Cortes chegam no dia em que os médios iniciam o processo de escolha do novo bastonário. Na corrida há, contudo, apenas um candidato: o atual.
Em declarações à TSF, Carlos Cortes garante que depois de ser eleito, a Ordem dos Médicos vai dar início a um mandato mais interventivo e lembra ao Executivo de Luís Montenegro que há questões que foram propostas e ficaram sem resposta.
"A revisão da rede de referenciação, os modelos de urgência, as formas até de contratação dos médicos. Nós temos vários tipos de contratos que estão neste momento a desvirtuar aquilo que é o trabalho dos médicos, a valorização da profissão médica, a melhoria das condições de trabalho, tudo. Soluções para tornar o Serviço Nacional de Saúde mais atrativo", aponta.
Sublinhando que os médicos se "sentem desmotivados", o bastonário lamenta que o Ministério da Saúde e o Governo de Luís Montenegro não tenham "tido em conta" as alterações sugeridas e, por isso, deixa um alerta.
Este próximo mandato da Ordem dos Médicos vai ser um mandato de tolerância zero em relação à passividade da tutela e dos políticos nas mudanças que o SNS necessita
O bastonário salvaguarda, contudo, que há uma "via sempre privilegiada": a do diálogo. E prefere creditar que existe "muito boa vontade das pessoas que têm responsabilidades políticas".
De qualquer das formas, nota que, quando o diálogo "não funciona" e não permite "que se melhore nada", há "outras vias de intervenção" a que está disposto a recorrer, se necessário.
"Há muitas formas de protestos. As greves são decretadas, são organizadas, são feitas pelos sindicatos médicos, mas há muitas formas de protestos que os médicos podem desenvolver sem ser num âmbito sindical. Depois, se for necessário, os médicos expressarem a sua insatisfação, ou o seu grito de alerta, no momento oportuno iremos desenvolver essas atividades", assegura.
As eleições na ordem, que deveriam acontecer em janeiro de 2026, foram antecipadas para este mês na sequência do novo Estatuto da Ordem dos Médicos, que obriga a desencadear o processo eleitoral no prazo de um ano desde a publicação dessa revisão estatutária. Apesar de arrancarem esta quinta-feira, as eleições só terminam a 3 de junho.
Especialista em patologia clínica, Carlos Cortes candidata-se a um segundo mandato para o período 2025-2029, depois de ter assumido o cargo pela primeira vez em março de 2023, quando foi eleito com 61,94% dos votos na segunda volta das eleições, então disputadas com o médico Rui Nunes.
Carlos Cortes apresentou um programa de candidatura com 20 propostas-chave para o próximo mandato, entre as quais a revisão dos “aspetos lesivos” do novo Estatuto da ordem e reforço da intervenção política e social desses profissionais de saúde, tendo em conta que a sua voz tem sido “subaproveitada no desenho de políticas públicas” do setor.
Outra das propostas previstas no programa passa por censos nacionais, uma vez que há a “perceção pública de falta de médicos, mas sem dados estruturados”, que permitam avaliar a distribuição de médicos, as especialidades carenciadas, o efeito da emigração e as razões pela não-escolha de determinadas especialidades.
Para ser elegível para bastonário, um candidato deve ter, pelo menos, cinco anos de inscrição na Ordem dos Médicos e a candidatura deve ser proposta por um mínimo de 500 médicos no gozo dos seus direitos estatutários, representativos de todas as regiões.
De acordo com o calendário, a posse tem de ocorrer até 30 dias após o ato eleitoral.