Carros serão proibidos no centro de Guimarães. Vendedores falam em "morte" do comércio tradicional
Obras deverão arrancar no primeiro trimestre de 2025 com financiamento do Portugal 2030. O objetivo passa por pedonalizar todo o centro histórico da cidade berço
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O próximo ano deverá ficar marcado pelo arranque das obras que irão tornar o coração da cidade de Guimarães, classificado Património Mundial da UNESCO, livre da circulação automóvel, sendo apenas possível transitar a pé, de transportes públicos ou através de outros meios de transportes suaves.
A Câmara Municipal pretende levar a cabo uma empreitada, financiada pelo Portugal 2030, no sentido de colocar “à mesma quota a estrada e os passeios”, de acordo com o presidente Domingos Bragança. Atualmente, 80% da zona histórica já está condicionada, porém, é intenção do autarca elevar esta percentagem aos 100% como forma de devolver perto de cinco hectares de cidade à população. Entre as ruas que serão intervencionadas estão a Alameda, Toural e Santo António.
Em entrevista à TSF, o presidente Domingos Bragança avança que o projeto está prestes a ser concluído.
“Espero que seja levada a concurso público este ano e tenha início, o mais tardar, no princípio de 2025”, ou seja, ainda durante o seu último mandato à frente dos destinos da autarquia vimaranense.
Este é um tema quente na cidade berço principalmente junto dos comerciantes que descrevem esta medida quase que como uma "morte" anunciada do comércio tradicional.
Há dois anos, a Associação de Comércio Tradicional de Guimarães entregou um abaixo-assinado com 200 assinaturas. A presidente Cristina Faria, que é proprietária da Casa Faria na Rua de Santo António, uma das que irá encerrar ao trânsito, acredita que se não existirem alterações ao modelo do projeto, esta pode ser a machadada final no comércio tradicional.
“Vamos aguardar pela apresentação do projeto. Depois vamos reunir e decidir os próximos passos”, refere.
Com rendas a rondar os mil euros, Cristina Faria realça a premência de, caso seja para avançar com a ideia de pedonalizar o centro histórico, ser fundamental que a autarquia aposte na instalação de serviços no centro da cidade assim como na criação de pequenos parques de estacionamento em diferentes zonas da cidade, uma vez que os preços dos principais equipamentos já são acessíveis. Nas mais de 2 horas de reportagem foram necessários apenas dez cêntimos para cobrir a despesa com estacionamento, no Parque Camões.
Jerónimo Silva, que há 52 anos tem as portas da Casa Ferreira da Cunha, uma loja de ferragens, abertas, é o rosto da descontentação. “São 16h10 e estão perto de dez pessoas no Toural”, constata. Não temos árvores. Fizeram asneira e agora querem fazer uma ainda maior”, atira.
Do lado da autarquia, o edil diz aguardar pelo consenso entre as associações de comerciantes dos diferentes setores para, até setembro, realizar encerramentos experimentais ao fim de semana e fechar propostas para a animação cultural. Uma pratica que chegou a acontecer antes da pandemia e que Cristina Faria, diz, não guardar recordações felizes.
“O negócio caiu entre 60 a 70%”, afirma. “Mesmo o sábado, que é o melhor dia de negócio, quando o trânsito está cortado as vendas são quase nulas”, conclui.
A mesma opinião tem Jerónimo Silva que acrescenta que a animação cultural só tem lugar ao sábado e domingo e as lojas necessitam de clientes nos restantes dias da semana.
Além da pedonalização do centro histórico, o município pretende instalar pérgolas para melhorar a experiência de compras ao ar livre.
