Carvalho da Silva diz que Governo "não deve entrar em paranoias e resolver tudo com baixos salários"
O antigo secretário-geral da CGTP espera que o Governo não adote nesta crise inflacionária as mesmas receitas do passado. À TSF, Carvalho da Silva sublinha que os salários e o emprego não podem ser tidos como as únicas variáveis de ajustamento da economia.
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Manuel Carvalho da Silva condena a proposta do Governo para os aumentos na Função Pública. O antigo secretário-geral CGTP considera que os valores apresentados, na segunda-feira, aos sindicatos não garantem os direitos fundamentais de todos os trabalhadores do Estado. Mariana Vieira da Silva, que esteve reunida na segunda-feira com as estruturas sindicais, anunciou que as carreiras de base vão ter um aumento superior aos restantes funcionários. Carvalho da Silva sublinha que as camadas intermédias também precisam de um reforço substancial dos rendimentos. O sociólogo conclui que o modelo do Executivo socialista só agrava as desigualdades.
"Toda esta teoria de que, agora, a preocupação são os mais pobres (e a preocupação primeira deve estar sempre, sempre nos mais pobres), mas um Estado social de direito democrático ou trata todos os seus cidadãos, garantindo direitos fundamentais a todos e de forma universal e depois reforça a proteção aos mais pobres, ou, abandonando os direitos fundamentais da maioria dos cidadãos, desaparece rapidamente o Estado social, e com ele, a democracia."
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À TSF, Manuel Carvalho da Silva antevê um desastre para as famílias se o Governo aplicar a esta crise inflacionista as receitas do passado. O ajustamento da economia não deve ser feito à custa de salários.
"Esta crise inflacionária não é idêntica a outras anteriores, por isso o governo não deve aplicar as mesmas receitas, a esta crise, que se aplicaram noutras. Ou seja, não sendo os salários e o consumo a causa da inflação, é preciso proteger a sociedade, a economia e os cidadãos, em particular, e não entrar nestas paranoias de resolver tudo com abaixamento de salários e, a prazo, com o desemprego. Portanto, eu desejava muito que esta ronda de negociações levasse a que o governo seja mais coerente com a situação que estamos a viver e se deixe das velhas receitas de tomar os salários e o emprego como variáveis de ajustamento da economia. Isso é um desastre e conduz, sempre, a condições piores."
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O antigo secretário-geral da intersindical espera que na próxima ronda com os sindicatos, o governo se mostre mais flexível, sob pena desta estratégia resultar num Estado mais frágil, mais pobre e sem capacidade de resposta em serviços essenciais para a população.
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Governo e sindicatos dos trabalhadores da Administração Pública voltam a reunir-se na próxima sexta-feira para a segunda ronda de conversas sobre os aumentos salariais.