A propósito dos 10 anos sobre o desaparecimento de Madeleine McCann, o diretor-geral adjunto da Scotland Yard faz um balanço e explica em que ponto está a investigação.
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"Temos algumas linhas de investigação cruciais, estão ligadas a certas hipóteses, mas não vou discuti-las porque fazem parte de uma investigação em curso. Temos algumas teorias sobre o que podem ser as explicações mais prováveis e estamos a investigá-las", disse Mark Rowley, diretor-geral adjunto da Polícia Metropolitana, também conhecida como Scotland Yard.
A possibilidade de um "assalto que correu mal" foi considerada como uma "hipótese sensata" que não foi completamente eliminada, admitiu.
A tese de rapto por um predador sexual também continua a ser avaliada.
"Essa tem sido uma linha de investigação. A realidade é que, no mundo moderno, em qualquer área urbana, se for lançada uma grande rede, é possível encontrar uma série ampla de crimes. Vão encontrar-se autores de crimes sexuais que vivem perto. E essas coincidências precisam de ser analisadas, é uma coincidência e pode estar ligada à investigação que se está a fazer. Os crimes que podem estar relacionados têm de ser investigados e, ou aceites, ou descartados", explicou.
Questionado sobre se a polícia está perto de chegar a uma conclusão, o responsável indicou que detetives britânicos e portugueses estão numa fase "crucial" da investigação.
Boas relações com a PJ
"Sei que temos uma linha de investigação significativa que vale a pena desenvolver, porque pode dar uma resposta. Mas até a investigarmos não sei se lá vamos chegar ou não. Nós e os [polícias] portugueses estamos a fazer uma parte crucial do trabalho e não quero arruiná-lo ao tornar públicos bocadinhos de informação", justificou.
"A nossa relação com os investigadores portugueses é melhor do que nunca e isso está a dar dividendos no progresso que estamos a fazer", afirmou.
O responsável admite que "a dimensão da escala e a complexidade de um caso como este acarreta os seus desafios, especialmente aprender a trabalhar com colegas que operam num sistema jurídico muito diferente".
Embora a polícia britânica continue sem saber se a criança está viva ou morta, Rowley considera que esta é uma altura em que se pode refletir sobre uma "investigação que atraiu uma cobertura e interesse mediáticos sem precedentes".
Mais de 8 mil "avistamentos"
Madeleine McCann desapareceu poucos dias antes de fazer quatro anos, a 03 de maio de 2007, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico, na Praia da Luz, no Algarve.
Os pais e um outro britânico, Robert Murat, foram constituídos arguidos pelas autoridades judiciais portuguesas em julho de 2007, mas, a 21 de julho de 2008, a Procuradoria-Geral da República determinou o arquivamento das suspeitas, o que ditou o fim das investigações.
A "Operação Grange" foi aberta em 2011 para reavaliar todos os documentos e informações relacionadas com o caso, evoluindo no ano seguinte para um inquérito formal.
Dos 29 detetives que inicialmente trabalharam restam apenas quatro dedicados ao caso, cuja investigação em Portugal foi também reaberta pela Polícia Judiciária.
Ao todo, a polícia britânica terá revisto mais de 40.000 documentos, muitos dos quais tiveram de ser traduzidos de português para inglês. Foram recolhidos 1.338 depoimentos e 1.027 objetos, determinadas 7.154 diligências e identificadas 560 linhas de investigação, tendo sido enviadas mais de 30 cartas rogatórias internacionais.
A polícia britânica afirma ter investigado mais de 60 "pessoas de interesse", considerado um total de 650 criminosos sexuais e averiguados testemunhos de 8.685 potenciais avistamentos de Madeleine em todo o mundo.
Fez ainda quatro apelos públicos na televisão britânica e em certos países, um dos quais com um esboço de um retrato de Madeleine mais velha e outro a pedir informação sobre assaltos feitos em casas na região.
"Chegaram milhares de informações, algumas úteis, outras não mas, entre elas, algumas pepitas que deram uma luz adicional ao material que veio da altura. É uma das coisas que nos ajudou a progredir", vincou.
Em 2013, a polícia identificou quatro indivíduos considerados suspeitos, o que resultou em interrogatórios na esquadra policial de Faro com a ajuda da Polícia Judiciária local e nas buscas em terrenos baldios perto da Praia da Luz.
Porém, as averiguações não encontraram qualquer prova que pudesse implicar os indivíduos no desaparecimento, por isso já não são objeto de mais investigações.
Mark Rowley defendeu a necessidade de manter uma "mente aberta" sobre se a criança, que hoje teria 13 anos, está viva ou morta, mas que o caso continua a ser o de uma pessoa desaparecida e raptada. "Ela não tinha idade suficiente para tomar uma decisão de ir embora e começar uma nova vida", sublinhou.
Financiamento até setembro
Desde 2011, estima-se que esta operação tenha custado mais de 12 milhões de libras (14 milhões de euros). No início deste ano, a polícia recebeu 85 mil libras (100 mil euros) adicionais para serem gastos nos seis meses entre abril e setembro deste ano.
O diretor-geral adjunto da Scotland Yard reconheceu que "os grandes casos podem necessitar de muitos recursos e de muito tempo" e garante que houve cuidado na gestão do dinheiro público, quando a equipa foi reduzida, implicando menor necessidade de dinheiro.
Reconheceu também que não há garantia que esta investigação seja bem-sucedida, apesar da determinação dos agentes da polícia britânica e da portuguesa.
Mark Rowley garantiu: "Vamos continuar [com a investigação] enquanto existir financiamento e enquanto existirem linhas de investigação razoáveis para investigar".
A Scotland Yard, além de ser responsável pela segurança na área metropolitana de Londres, tem a responsabilidade no combate ao terrorismo, a proteção de personalidades e é frequentemente encarregue de missões e casos com nível nacional.