A associação Quebrar o Silêncio registou 718 pedidos de ajuda desde 2020. Nos primeiros meses de 2023 recebeu 15 novos pedidos por mês.
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Nos últimos sete anos a associação Quebrar o Silêncio recebeu 718 pedidos de ajuda de homens e rapazes vítimas de violência sexual. A maioria dos abusos acontece durante a infância, mas Ângelo Fernandes, presidente da associação, diz que desde 2020 os casos de violência sexual contra homens e adultos têm vindo a aumentar.
"Em 2020, nós tivemos apenas dois casos e este ano, em 2023, tivemos 12 casos. Tem sido um aumento que para nós é significativo porque esses homens adultos muitas vezes enfrentam questões específicas", revelou à TSF Ângelo Fernandes.
O responsável da associação Quebrar o Silêncio revela ainda que a sociedade encara de forma diferente os abusos sexuais perpetrados contra mulheres e contra homens.
"A violência sexual, de uma forma geral, é um tema tabu que gera desconforto e mal-estar. A violência sexual contra homens é um tabu dentro deste outro tabu. Temos aqui umas outras questões também para trabalhar. O que fizemos há sete anos foi iniciar aqui uma conversa sobre o facto de os homens serem vítimas de abuso sexual, não só na infância como na idade adulta, e temos de falar de uma forma que seja educativa e que informe as pessoas para que, de uma forma geral, a sociedade possa também ser mais recetiva quando alguém que foi vítima de abuso sexual partilha a sua história", explicou o presidente da associação Quebrar o Silêncio.
A associação recebeu em média 15 novos pedidos de ajuda por mês, entre janeiro e junho do ano passado. Entre os homens que foram vítimas já na idade adulta há muitos casos em contexto de saúde, consultórios médicos e também no desporto, ou seja, em ginásios.
Também à TSF, o presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), Daniel Cotrim, não adianta se houve ou não um aumento do número de queixas de abusos por parte de homens e rapazes, mas admite que normalmente as queixas que chegam são referentes a episódios passados na infância.
"Estamos a falar de homens que reportam, na grande maioria das situações, casos de abuso sexual que aconteceram na sua infância. Estamos a falar entre os zero e os seus 12 ou 13 anos e que na grande maioria são perpetrados por agressores, por outros homens e, numa pequena faixa, são perpetrados por mulheres", acrescentou Daniel Cotrim.
