Casos de discurso de ódio na PSP são "uma agulha no palheiro". Sindicato lembra que "pessoas só são culpadas depois de condenadas"
Em declarações à TSF, Armando Ferreira considera que "não podemos ser tão categóricos em culpabilizar os polícias", uma vez que, depois, pode haver situações em que não se verifica "o tal discurso de ódio racista"
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Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia, lembra que as pessoas só são consideradas culpadas perante uma decisão do tribunal. Estas declarações surgem na sequência das afirmações da Inspetora-Geral da Administração Interna, que, em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, admitiu que "falhou muita coisa" até se chegar à situação atual de um discurso de ódio nas forças de segurança nas redes sociais. Para Anabela Cabral Ferreira, quem falhou foram também os próprios colegas que não denunciam os agentes da PSP e os militares da GNR. Em declarações à TSF, Armando Ferreira considera que "não podemos ser tão categóricos em culpabilizar os polícias", uma vez que, depois, pode haver situações em que não se verifica "o tal discurso de ódio racista".
"Temos de avaliar caso a caso e verificar que as pessoas só são culpadas depois de condenadas e, havendo um discurso de ódio, está em causa a prática de um crime e, obviamente, havendo a prática de um crime, a pessoa só é culpada se for condenada por esse crime. Não temos tido casos de polícias a serem condenados criminalmente pela prática de discurso de ódio ou pela prática de atuações racistas", explica à TSF Armando Ferreira, sublinhando que os números de expulsões de forças de segurança devido aos discursos de ódio são residuais.
"Os números evidenciam que, de uma forma redutora, apenas 1% dos visados é que pode ter praticado alguma coisa. É preciso perceber que a Polícia de Segurança Pública é constituída por seres humanos. Os seres humanos têm como prática recorrente errar e os comportamentos que estejam errados têm de ser obviamente corrigidos ou pelo menos, de alguma forma, educados. No caso dos profissionais da Polícia de Segurança Pública, aquilo que se verifica é que estamos a falar de uma agulha no palheiro", afirma.
Em entrevista à TSF e ao DN, a Inspetora-Geral da Administração Interna considera que o tratamento para as forças de segurança que assumem um discurso de ódio passa pela formação e educação. Armando Ferreira concorda, mas com uma condição.
"Sou o primeiro a concordar que nós não vivemos numa sociedade que seja de ódio ou numa sociedade que seja racista, mas as situações que possam acontecer têm de ser usadas para ensinar outros que aquilo não é o comportamento adequado. E aí a formação é positiva, mas também precisa de ser uma formação assertiva e proativa e não uma formação à base do medo e de ameaça de que: 'se vocês fizerem isto vão ser expulsos, se vocês fizerem isto são suspensos'. Portanto, eu acho que a formação tem de ser pela positiva e não pela repressão negativa de ameaça disciplinar ou criminal", acrescenta.
