Catarina vs Cotrim: o "arraial da irresponsabilidade" e o "bloqueio de esquerda"
Catarina Martins e João Cotrim de Figueiredo concordaram em discordar em todos os temas em debate: impostos, saúde e educação e até nas medidas restritivas durante a pandemia.
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Em tom moderado, pontuado aqui e ali pela ironia, dois partidos que se sentam em lados opostos do hemiciclo debateram, na SIC Notícias, como se houvesse o acordo tácito de concordarem em discordar.
Catarina Martins entrou ao ataque denunciando a ausência do programa eleitoral da Iniciativa Liberal (IL) que João Cotrim de Figueiredo reconheceu, remetendo a apresentação para o próximo sábado, em Guimarães.
O primeiro tema em debate, política fiscal, mostrou Bloco e IL em polos opostos: os bloquistas pretendem criar mais dois escalões " para aliviar os impostos para quem vive dos rendimentos do trabalho", explicou Catarina Martins.
Já João Cotrim de Figueiredo defendeu uma proposta "gradual" de uma taxa única de 15%, considerando que "Portugal tem, há demasiado tempo, uma carga fiscal que impede a economia de progredir garantindo que com a proposta da IL "ninguém paga mais, todos pagam menos, exceto os que passam a pagar zero."
A ideia foi criticada pela coordenadora do BE: "É uma proposta extremada da direita, muito boa para os ricos", e , numa referência velada a Rui Rio, ironizou: "Talvez se for muito mitigada não fique pior."
O mesmo desacordo sobre o salário mínimo nacional: enquanto os bloquistas defendem um aumento de 10% ao ano, os liberais até defendem que não deveria existir, por ser "limitativo da liberdade que algumas regiões podiam ter para a fixação de pessoas" e propondo como alternativa salários mínimos por setor ou por região, mas para o BE isso seria provocar "dumping" (queda) e destruir os salários".
"Dá ideia de que a IL se lança para as coisas sem as pensar", picou a coordenadora do BE.
Numa referência a uma iniciativa dos liberais, em Lisboa, em plena pandemia, Catarina Martins acusou ainda a IL de fazer "da irresponsabilidade a sua propaganda" quando "proteger vidas era a prioridade."
"A IL fez um arraial contra a necessidade de haver medidas sanitárias."
Na resposta, Cotrim de Figueiredo considerou que "discutir e usar mortes de pessoas não é fazer política séria"
Quando se falou sobre educação, Catarina Martins voltou ao ataque: "Na saúde, como na escola e um pouco como tudo o resto, a questão da Iniciativa Liberal não é a liberdade de escolha, é colocar o estado a financiar vários negócios privados. A Iniciativa Liberal, que não gosta nada do Estado, depois quer uma espécie de "Estado-papá" para pagar os negócios de toda a gente."
No plano económico, João Cotrim de Figueiredo acusou o BE de ter "zero propostas sobre crescimento económico."
"Gostava de saber qual é o modelo económico que o Bloco de Esquerda defende e em que país é aplicado", desafiou o líder da IL, considerando que o partido de Catarina Martins deveria ser conhecido como o "bloqueio de esquerda" por ser hoje um partido que "perdeu completamente a capacidade de ser um farol para aqueles que querem um Portugal mais moderno".
O Presidente da República convocou eleições legislativas antecipadas para 30 janeiro na sequência do "chumbo" do Orçamento do Estado para 2022, no parlamento, em 27 de outubro passado.