Num texto duro para o ex primeiro-ministro, Cavaco diz que foi impedido de exercer a sua magistratura de influência e admite ter refletido sobre a possibilidade de demitir o governo de Sócrates.
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É um desfiar de críticas ao antigo primeiro-ministro, no prefácio do Livro Roteiros que o chefe de Estado lança hoje para marcar o primeiro ano do segundo mandato
Cavaco acusa Sócrates, preto no branco, de «falta de lealdade institucional que ficará registada na história da democracia».
O PR sublinha que o PM não lhe deu «conhecimento prévio» do PEC IV e que, pelo contrário, a informação que na altura lhe estava a ser fornecida «referia uma situação muito positiva relativamente à execução orçamental dos primeiros meses do ano».
Não tendo sido informado previamente do PEC IV, continua Cavaco, «o Presidente foi impedido de exercer a sua magistratura de influência com vista a evitar o deflagrar de uma crise política».
Mas as críticas não se ficam por aqui. O chefe de Estado frisa que não foi por falta de alertas que o Governo não ajustou as suas políticas para conter o agravamento da situação económica e social do país e, por isso, lamenta que a palavra do PR tenha sido «menosprezada», numa altura em que ainda «havia tempo» para «mudar de rumo».
O Presidente vai ainda mais longe e acusa o primeiro-ministro de ter atrasado o pedido de ajuda externa por causa do ambiente de pré-campanha. Cavaco diz que o resgate financeiro se tornou «num tema de controvérsia político-partidária» quando devia ter sido tratado na lógica do «interesse nacional».
Mais uma crítica a José Sócrates: diz Cavaco que desde que iniciara funções, o Governo revelava «grande dificuldade» em lidar com a «perda da maioria absoluta» e que só depois de «muito pressionado» e «com grande contrariedade» aceitava dialogar com a oposição.
Perante isto tudo, o PR, que estava impedido de dissolver a Assembleia por se encontrar nos últimos seis meses do mandato, ainda equacionou demitir o Governo, mas não avançou, porque concluiu que o regular funcionamento das instituições não estava em causa.