Centenário de Eugénio de Andrade celebrado com exposições, concertos e congressos
À TSF, Jorge Sobrado, diretor do Museu da Cidade do Porto, explica que o objetivo das comemorações é "devolver o poeta aos seus leitores".
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Um colóquio internacional, congressos, exposições, concertos e leituras são algumas das iniciativas que arrancam esta quinta-feira e vão decorrer ao longo do ano para celebrar o centenário do escritor e poeta Eugénio de Andrade.
Nascido em 19 de janeiro de 1923, no Fundão, Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, morreu no Porto em 2005, aos 82 anos.
São, por isso, essas as duas principais cidades a organizar iniciativas de evocação desta data especial, como é o caso da exposição "Eugénio de Andrade, A Arte dos Versos", a inaugurar hoje na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, que tem como ponto de partida o espólio do escritor, doado pela Fundação Eugénio de Andrade à autarquia do Porto, e permite uma aproximação à vida e obra do poeta.
Na mesma cidade, a Cooperativa Árvore apresenta uma exposição intitulada "Poesia a 100 Eugénio", que vai estar patente até dia 28 de janeiro, que integra obras de pintura e escultura de artistas convidados sobre o tema do imaginário poético de Eugénio de Andrade, uma coleção de fotografias do poeta com artistas com quem privou na época, assim como catálogos editados pela Cooperativa Árvore e outras publicações.
Ainda no Porto, terá lugar hoje à noite na Casa da Música um concerto dedicado ao poeta, e estão previstos ao longo do ano ciclos de leitura, percursos e um programa educativo.
Em declarações à TSF, Jorge Sobrado, diretor do Museu da Cidade do Porto, afirma que o grande objetivo é manter vivo o poeta e devolver o escritor a todos os leitores.
"Este centenário quer ser uma devolução do poeta aos seus leitores, os leitores experientes e conhecedores de Eugénio, mas sobretudo os novos leitores. É uma forma de não engavetar Eugénio, é uma afirmação contra o engavetamento de um grande poeta português e um grande poeta do Porto, mas é uma devolução aos novos leitores", defende.
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Jorge Sobrado, um dos curadores da exposição "Eugénio de Andrade, A Arte dos Versos", explica que esta mostra é como que uma leitura de vida do escritor.
"Conhecer um pouco do grande espólio literário, pessoal e fotográfico de Eugénio de Andrade, que foi doado ao município do Porto depois da morte do poeta e da extinção da sua fundação. A exposição põe em paralelo muitos dos objetos desse espólio literário, onde estão manuscritos, datilografados, anotações e emendas, que o poeta foi aplicando aos seus poemas. Por outro lado, apresenta também alguns objetos muito simbólicos: o espólio pessoal, nomeadamente, a sua máquina de escrever e a sua mala pessoal. Ao mesmo tempo faz-se uma leitura de vida de Eugénio, que passa pela cidade do Porto, as cumplicidades artísticas e viagens que influenciaram Eugénio e os seus amigos, entre os quais está a Cristina Bessa-Luís", afirma.
Jorge Sobrado diz que são três os ciclos que marcam o primeiro semestre da celebração do centenário de Eugénio de Andrade.
"Um ciclo de leitores de Eugénio, onde estão artistas de vários quadrantes, escritores, poetas, artistas de teatro, atores e políticos, que são desafiados a dar a conhecer os seus poemas de predileção de Eugénio. Há um ciclo de conversas que abrem olhares sobre a vida e a obra de Eugénio, a sua relação com a cidade do Porto, a sua relação das palavras com a imagem e a relação da poesia com a política, ou da poesia como ato de resistência, onde teremos nomes como Bernardo Pinto de Almeida, Rosa Maria Martelo e João Luís Barreto Guimarães. Existe um outro ciclo de música, com espetáculos na biblioteca Almeida Garrett."
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O Fundão será palco também de exposições, concertos, arte urbana, documentários, colóquios, debates, leituras e projetos de criação artística, bem como a construção de um espaço de raiz - uma "sala de leitura" - que será projetado pelo arquiteto Siza Vieira.
Uma das iniciativas em destaque nesta programação é o projeto "Branco no Branco -- Dicionário de 100 Imagens para 100 Palavras de Eugénio de Andrade", concebido pelo grupo de arquitetos "Espacialistas" e pelo escritor Gonçalo M. Tavares.
Estão previstos ainda uma exposição, "A Raiz das Palavras", que retrata o percurso de Eugénio de Andrade através de poemas, capas de livros e imagens, numa escolha que foi feita pelo próprio Eugénio de Andrade, um concerto do Coro Infantil da Casa da Música do Porto, que interpretará um ciclo de canções com programa de Fernando Lopes-Graça sobre poemas de Eugénio de Andrade, bem como a exibição do cinematográfica do documentário sobre Eugénio de Andrade, da autoria de Arnaldo Saraiva, José Luís Carvalhosa e Diogo Colares Pereira.
O Festival Literário da Gardunha, que esteve suspenso durante alguns anos, será retomado no âmbito destas comemorações e terá várias iniciativas dedicadas à vida e obra de Eugénio de Andrade. Será ainda nesse contexto, que vai ser apresentada a obra do maestro Luís Cipriano, composta a partir do poema "É urgente o amor".
Em Lisboa, as comemorações começam hoje com uma evocação de Eugénio de Andrade na livraria Barata, com um recital de poesia intitulado "Dói-me esta solidão", que conta com a apresentação de Paula Mendes Coelho e a participação musical de Filipa Bramcamp, Miguel Graça Moura, Paulo Lopes e Tozé Cerdeira.
Em fevereiro, as comemorações prosseguem na Biblioteca Palácio Galveias, estando prevista uma evocação da vida e da obra do autor de "Os Amantes sem Dinheiro".
A Fundação Calouste Gulbenkian e a Biblioteca Nacional de Portugal vão receber, em outubro, um Congresso internacional sobre Eugénio de Andrade.
Estão previstas ainda três conferências, no Porto, em datas a definir, e um colóquio internacional, em colaboração com a Associazione italiana di studi portoghesi e brasiliani (AISPEB).
A programação completa do programa das comemorações pode ser consultada aqui.