Centrais de Sines e Pego são campeãs das emissões, mas aviação também tem culpas
Associação Zero nota que a TAP está numa espécie de "escape livre" e tem aumentado as emissões.
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As centrais a carvão de Sines e Pego são as principais instalações emissoras de dióxido de carbono em Portugal, denunciou este domingo a associação ambientalista Zero, a propósito do início, na segunda-feira, da cimeira sobre Alterações Climáticas, em Madrid.
De acordo com a Zero, as emissões destas centrais foram responsáveis por 15% do total de emissões de dióxido de carbono-equivalente (medida internacional que expressa a quantidade de gases de efeito estufa como dióxido de carbono) registadas em Portugal em 2017.
A situação mostra a urgência de substituir estas instalações por "centrais de ciclo combinado a gás natural", numa primeira fase, e depois, "por fontes de energia limpa", defende a associação em comunicado divulgado este domingo, sublinhando a importância da concretização do anúncio do Governo de encerrar todas as centrais que recorrem a carvão até 2030.
O setor do carvão não é, no entanto, o único com culpas: também o petróleo, o gás natural e a produção de cimento fazem parte das atividades que em Portugal mais contribuem para o aumento das emissões de gases com efeito de estufa.
A produção de eletricidade é responsável, em Portugal, segundo a Zero, por um quinto do total de emissões de gases, ocupando o topo da lista dos dez maiores poluidores. À TSF, o presidente da Zero, Francisco Ferreira, explica que "apenas com base em dez indústrias, temos 28% do total das emissões do país".
O terceiro lugar do 'ranking' é ocupado pela refinaria de petróleo de Sines, indústria que volta à lista, com o oitavo posto a ser ocupado pela refinaria do Porto.
A refinação de petróleo e "a produção de cimento com a quinta, sexta e nona posição, mostram como estes setores, a par da produção de eletricidade, são responsáveis por uma considerável percentagem de emissões no país", aponta a Zero.
Aviação com "escape livre"
Embora não faça parte da lista das dez instalações que emitem mais gases com efeito de estufa, a Zero alerta também para a poluição causada pela TAP.
De acordo com a associação, a empresa aumentou em 12,6% as suas emissões de 2017 para 2018, mostrando uma tendência contrária às das unidades industriais que, apesar de mais poluentes, apresentaram reduções de emissões a partir de 2018.
"Estamos a implementar um conjunto de políticas ao nível das indústrias e dos transportes, nota-se quem em 2019 conseguimos reduzir quase em 50% as emissões associadas às centrais a carvão mas, na aviação, estragamos esta redução de emissões", explica Francisco Ferreira.
De acordo com a associação, a TAP ocupava, em 2017, a oitava posição entre os maiores emissores de gases, "com 1,2 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono".
Apesar do peso que o turismo tem na economia portuguesa, Francisco Ferreira defende que é altura de travar o crescimento do setor e, sobretudo, de o começar a taxar. A título de exemplo, explica, Portugal não paga IVA nem ISP.
"Tem de começar a haver taxação relativamente aos combustíveis e bilhetes na aviação", começa por notar. "Não devemos estimular a procura, o turismo está a tornar-se insustentável e vai contra a necessidade imperiosa da emergência climática porque é todo feito com base na aviação", lamenta o ambientalista.
Para resolver em parte o problema, Francisco Ferreira defende a necessidade de "fazer ligações ferroviárias rápidas dentro do país, com prioridade Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid, com caminho para a Europa".
Necessidade de reduzir
A Zero nota ainda, no mesmo comunicado, que, este ano, as emissões da produção de eletricidade "deverão sofrer uma forte redução", com as emissões associadas ao uso do carvão a caírem para metade.
"Apesar de uma significativa redução da produção da grande hidroelétrica (barragens) na ordem dos 40% e da manutenção da produção de outras fontes renováveis, o decréscimo de emissões nestes 10 meses do ano foi já de 3,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono", refere a Zero, citando dados das Redes Energéticas Nacionais das diferentes fontes de produção de eletricidade entre janeiro e outubro de 2019 e o período homólogo do ano passado.
"Com a queda de produção das duas centrais de carvão quase para metade, as emissões totais associadas à produção de eletricidade caíram aproximadamente 37%", congratula-se a associação ambientalista.
Esta diminuição, explica, resulta "da relação entre os preços do carvão e do gás natural", mas sobretudo "do elevado preço das licenças de emissão de carbono no mercado europeu, acrescido da taxa nacional de carbono e do imposto sobre combustíveis fósseis que começaram a ser aplicados em 2018 de forma crescente".
Milhares de especialistas e decisores políticos reúnem-se na próxima semana em Madrid na 25.ª reunião da ONU sobre as alterações climáticas, a COP25.
As alterações climáticas são, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.
As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afetar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.
Num evento lateral integrado no programa da COP25, que tem fim marcado para dia 12 de dezembro, Portugal vai voltar a apresentar o seu Roteiro e o Pacto de Financiamento Sustentável, "assinado pelas 16 mais importantes instituições financeiras" nacionais, incluindo a banca, seguradoras e entidades reguladoras.
Para que Portugal produza tanto dióxido de carbono como o que as suas florestas têm capacidade para absorver "vai ter que se investir mais dois mil milhões de euros por ano do que seria expectável", afirmou o ministro do Ambiente numa entrevista à Lusa divulgada hoje, indicando que 85% desse dinheiro virá das famílias e das empresas.