"Cérebro formatado para compulsão." Autoexclusões dos jogos online atingem número recorde, mas "não estão a funcionar"
Entre janeiro e junho deste ano, foram banidas 34 mil contas de jogadores em plataformas de jogos e apostas online por iniciativa dos próprios, num total de 326 mil pedidos
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Apesar de o número de autoexclusões dos jogos online ter atingido um novo recorde, a estratégia produz poucos efeitos para quem é viciado no jogo. Os dados, divulgados esta quarta-feira pelo Jornal de Notícias (JN), mostram que só entre janeiro e junho deste ano foram banidas 34 mil contas de jogadores em plataformas de jogos e apostas online por iniciativa dos próprios, num total de 326 mil pedidos.
A TSF ouviu o testemunho de dois responsáveis da linha jogadores anónimos de Portugal, que não se quiseram identificar. Maria, nome fictício, defende que a autoexclusão não funciona, em muitos casos, porque as pessoas são aliciadas para continuar a jogar.
"O cérebro está formatado para a compulsão e a autoexclusão não está a funcionar. Tenho uma autoexclusão definitiva em Portugal, mas, se eu quiser, consigo entrar em qualquer outro casino. Há casinos que não deixam autoexcluir e fazem estratégias tipo: 'Tem de entrar na plataforma para autoexcluir.' Não é externo e depois apanhamos logo com um bónus. A pessoa já está naquela de tentar fazer autoexclusão, mas depois leva com um bónus de 250 euros e pensa: 'Deixa-me lá ver se ganho desta vez'", explica.
Também João, nome fictício, reclama das estratégias utilizadas pelos casinos para dar a volta às autoexclusões: "Ao fim de seis meses, a pessoa tem o direito de cancelar a sua autoexclusão."
Os responsáveis pelos jogadores anónimos em Portugal alertam para o aumento de casos de vício e avisam que procurar apoio psicológico é uma das melhores formas de deixar o jogo. A linha de apoio recebe entre duas a três chamadas por dia.