CGTP faz ultimato: "Governo tem de obrigar empresas a permitir a entrada de sindicatos"
A dois dias de abandonar o cargo de secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos esteve na Manhã TSF, para uma entrevista exclusiva.
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A Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP) faz um ultimato ao Governo e exige que a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social publique uma norma que obrigue as empresas a não impedirem a entrada dos sindicalistas nos locais de trabalho.
Em entrevista à TSF, a dois dias de abandonar a liderança da CGTP, o secretário-geral Arménio Carlos, defendeu, esta manhã, que não há liberdade sindical dentro das empresas porque os patrões não querem.
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"Impedir que os sindicatos da CGTP entrem em milhares de empresas do setor privado é amputar a democracia participativa. É também por em causa direitos, liberdades e garantias constitucionais", afirmou Arménio Carlos.
"Se não tem representação sindical, se tem medo de sindicalizar-se, se não deixam entrar o sindicato, se não pode discutir e apresentar reivindicações, como é que um trabalhador pode ser livre?", questionou o sindicalista, frisando que muitos trabalhadores estão "reféns" dos patrões. "O Governo tem de obrigar as empresas a permitir a entrada dos sindicatos", insistiu.
Arménio Carlos recorda que o Governo se comprometeu em enviar à CGTP uma posição sobre esta matéria até esta quinta-feira. "Estamos à espera, até ao final do dia, que a sra. ministra [Ana Mendes Godinho] - que, até agora, sempre cumpriu com a sua palavra - também hoje cumpra e não se esqueça", avisou o dirigente sindical.
"PS está a virar à direita"
Questionado sobre as conquistas dos trabalhadores perante o novo quadro parlamentar, o secretário-geral da CGTP admite que será mais difícil fazer passar medidas que beneficiem o povo e acusa o Partido Socialista (PS) de ter virado à direita, tornando mais difícil o funcionamento da "geringonça".
"Este Governo, neste momento, está a ter uma postura tática de aliança com as forças mais à direita, nomeadamente na área económica e financeira", reparou Arménio Carlos.
"Agora temos um excedente orçamental, então como se justifica que nos venham dizer que não há dinheiro para aumentar salários que há dez anos não são atualizados?", questionou, apontando os milhões de euros disponibilizados pelo Executivo para capitalizar o Novo Banco e para financiar as parcerias público-privadas.
Fim da liderança da CGTP? "Saio feliz"
Dentro de dois dias, Arménio Carlos irá abandonar o cargo de secretário-geral da CGTP, que ocupa desde 2012. Prepara-se agora para regressar ao seu posto de trabalho na Carris, empresa da qual era funcionário antes de assumir a liderança da central sindical.
Questionado sobre estes oito anos à frente da CGTP, o dirigente indica que foram conseguidos bons resultados nos últimos anos e garante que deixa o cargo satisfeito.
"Saio feliz", assegurou Arménio Carlos, na entrevista à TSF. "Se é verdade que não conseguimos tudo, também é verdade que houve situações muito interessantes, quer no combate à troika, quer na demissão do Governo PSD/CDS e depois no início do processo de reposição de rendimentos e direitos, que não teriam acontecido se a CGTP e os trabalhadores não tivessem lutado."
*com Nuno Domingues e José Milheiro