Sem terem o caráter religioso das Janeiras, os grupos de charolas algarvias cantam e tocam no Ano Novo e no Dia de Reis.
Corpo do artigo
A tradição tem mais de cem anos. No primeiro dia do Ano e no dia de Reis os grupos de Charolas saem à rua para dar as boas-vindas ao Novo Ano. Ao contrário das Janeiras, não é um costume religioso.
É na freguesia de Bordeira, no concelho de Faro que este costume está mais enraizado. Ali formam-se grupos de homens e mulheres que cantam e dizem quadras à desgarrada, acompanhados por instrumentos. Não pode faltar o acordeão, a pandeireta e as castanholas. Tudo começa com um apito que dá a ordem para começar a música.
TSF\audio\2024\01\noticias\05\maria_augusta_casaca_charolas_bordeira
O grupo, muitas vezes formado por mais de 20 pessoas, vai tocando e cantando a Marcha da Entrada, a Valsa das Vivas e a Marcha de Saída. É na valsa das Vivas que os charoleiros dão asas à sua imaginação.
Rui Vargues, que pertence à Charola União Bordeirense lembra que há muitos anos as charolas saíam logo na noite de Fim de Ano. "Na altura havia muita pobreza e iam de porta em porta para que lhes dessem alguma coisa de comer", conta à TSF.
Hoje os tempos são muito diferentes, mas a tradição mantém-se. O hábito de formar grupos de charolas na terra não se perde e é rodeado de festa e alegria. "Temos a charola da Juvenil que são os miúdos que começam com 4- 5 anos e depois, quando vão crescendo, vão sendo distribuidos pelas outras charolas", explica Rui Vargues.
Só na aldeia de Bordeira há cinco grupos de charoleiros que no dia de Reis percorrem os cafés, a sociedade recreativa e as ruas da aldeia a cantar e tocar. Lançam quadras de improviso a enaltecer a terra, ou recheadas de ironia sobre alguma situação ou pessoa. E porque a Rádio TSF foi ouvi-los, o grupo da Charola Juventude União Bordeirense quis dar um Viva especial que arrancou uma gargalhada geral na sala: "Mais um ano quem diria/ E olha que isto hoje promete/ Estamos em direto para a Telefonia / E também para a internet."