Chega retira referências à IV República do programa político e rejeita "conotações extremistas"
André Ventura vai apresentar o novo programa político aos conselheiros nacionais, num movimento que pode evitar a ilegalização do partido.
Corpo do artigo
O Chega reúne-se esta sexta-feira em Conselho Nacional, para discutir e aprovar o novo programa político. O documento tem menos propostas concretas, e deixa de fora vários temas polémicos, com o partido a querer libertar-se "de conotações extremistas".
As diferenças começam logo no tamanho, com apenas 25 páginas, menos de metade do atual. No documento, a que a TSF teve acesso, já não há referência a temas polémicos como a criação de uma IV República. A "revisão profunda da Constituição", que o partido sempre defendeu, também parece ter os dias contados, pelo menos no programa político.
TSF\audio\2021\07\noticias\02\francisco_nascimento_programa_chega
André Ventura explica que o objetivo do novo documento é agregar um partido com militantes muito diversos, "como católicos, comunistas no Sul do País, e pessoas da grande massa suburbana".
"Este é um partido que se construiu muito em volta da diversidade ideológica. É preciso criar um cimento em torno disto, para termos um projeto comum para dar a Portugal. Não podemos viver só das medidas pontuais. É preciso que o país conheça um programa e uma linha de pensamento", aponta.
13324149
O documento propõe uma reforma na educação para recuperar a "autoridade do professor, e combater a indisciplina em meio escolar".
"Defendemos um modelo institucional de ensino profundamente renovado assente no reforço da dignidade e autoridade de educadores e professores, pressuposto do combate à indisciplina em meio escolar, o desafio mais significativo de qualquer reforma no setor", lê-se no documento.
O Chega assume-se de direita, conservador, reformista, liberal e nacionalista, mas "rejeita conotações extremistas".
"Temos medidas que são de algum radicalismo, isso é evidente, mas porque são reformas radicais, que entendemos que é preciso fazer, como na luta pela corrupção, na justiça e reforma do sistema político. Outra coisa é extremismo político, em que se conota com violência ou uso abusivo do discurso político", explica André Ventura à TSF.
"Agenda LGBT" nas escolas? Ventura já não fala em proibição
Em 2019, o Chega defendia a proibição da agenda LGBT no sistema de ensino, mas agora, já não há qualquer referência ao tema. Ainda assim, o partido continua a chamar família natural à relação íntima entre uma mulher e um homem, porque "é transmitida a vida e todo um conjunto de equilíbrios afetivos, emotivos e comportamentais, assim como de saberes, tradições e património que sustentam a dignidade e prosperidade dos indivíduos e dos povos".
O partido defendia, igualmente, o "fim imediato dos apoios do Estado ao aborto e mudança de sexo", mas agora, nem uma palavra para o assunto.
Por outro lado, continuam a pedir que a atribuição da nacionalidade portuguesa a estrangeiros seja limitada, para manter a identidade. Os filhos de imigrantes ilegais, mesmo nascidos em solo nacional, também não devem ter direito ao cartão de cidadão português.
13784626
"O Chega assume o dever de proteger, dignificar e renovar a nacionalidade portuguesa contra riscos da sua descaracterização nas gerações presentes e futuras. A atribuição da nacionalidade portuguesa a estrangeiros deve ser limitada", escrevem.
Estava previsto que o novo programa político fosse apresentado no Congresso, que decorreu no final de maio. Um mês depois, o partido apresenta finalmente o documento aos militantes.
O VII conselho nacional do Chega está marcado para 2 e 3 de julho, em Sagres, e na ordem de trabalhos consta, além da apresentação, discussão e votação do programa do partido, a aprovação do regulamento eleitoral e do regulamento de disciplina.