Exposição conta com os testemunhos daqueles que sobrevirem à catástrofe e daqueles que chegaram primeiro ao terreno.
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Com o Alto Patrocínio do Presidente da República é inaugurada, este sábado ao final do dia, no Celeiro Patriarcal de Vila Franca de Xira, a exposição "Cheias de 67". É a primeira grande homenagem pública às centenas de vítimas que morreram na noite de 25 para 26 de novembro de 1967 no concelho de Vila Franca de Xira. Quintas, localidade da freguesia de Castanheira, foi a localidade mais afetada: morreram 89 dos 105 habitantes.
São dezenas de fotografias e vídeos, que mostram "o horrível e inesperado", o cenário que recorda de ter visto Joaquim Letria, o primeiro jornalista a chegar ao local em 1967. Hoje é o curador da exposição enquanto na altura trabalhava para o Jornal "A Capital". "Nada me marcou tanto como Quintas. Encontrei 89 mortos numa população de 105", lembra.
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O resto era lama e destruição e houve casas que foram levadas por inteiro pela força das águas. Agora, 52 anos depois, homenageiam-se as vítimas, como explica Manuela Ralha, vereadora da cultura em Vila Franca de Xira, que na altura tinha 4 anos. "Vocês não estão sozinhos", é a mensagem que a autarquia quer passar aos sobreviventes e aos familiares daqueles que perderam tudo naquela noite.
Manuela Ralha lembra que foram os mais pobres quem mais sofreu com a catástrofe, e que a postura do governo foi pouco correta, tentando esconder a tragédia. Vários testemunhos queixam-se também da pouca ajudada prestada à população afetada, que contou sobretudo com a caridade e solidariedade dos portugueses.
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Luísa Fajardo, hoje com a neta pela mão, era na altura uma criança, perdeu os avós e a irmã. Luísa lembra que foi dura a noite e praticamente insuportável o dia seguinte. "A noção daquilo que aconteceu foi quando se fez dia", diz. "O meu pai chegava à casa e dizia à minha mãe que não se via nada e que só se ouviam gritos. Quando amanheceu é que tivemos a noção da realidade", acrescenta.
Uma realidade que teve mais ecos na imprensa estrangeira que na portuguesa.
Houve famílias, nas cheias de 67, que não tiveram quem chorasse os mortos porque todos tinham morrido, como pode ler-se na manchete de um dos jornais que está na exposição.
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A exposição "Cheias de 1967" faz retrospetiva histórica e presta homenagem às vítimas do Concelho de Vila Franca de Xira. Inaugura amanhã à noite e fica patente até abril. Também à noite sobe à cena a peça "Ermelinda do Rio", com Maria João Luís no papel principal, conta a história de quem se confronta com a dimensão da tragédia, através dos olhos de uma menina e da mãe, que sobrevivem, impotentes, ao desaparecimento da família e de amigos.
A TSF faz o programa Terra a Terra, a partir do Celeiro da Patriarcal, onde está esta exposição: à mesa terá a vereadora Manuela Ralha, mas também o curador da exposição e a atriz Maria João Luís. No programa serão ouvidas ainda várias testemunhas desta catástrofe de há 52 anos.
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