Chuva provoca estragos nas culturas. Agricultores "gostam" da água, mas tempestade "atrapalha" plantações
Laranjas, limões e tomates são algumas das plantações que estão a ficar parcialmente afetadas com o excesso de água
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Na zona Oeste, se nas peras e maçãs, culturas tão características desta região, as árvores ainda estão “em madeira”, sem folhas e sem rebentação dos frutos, o mesmo não se passa com o limão de Mafra. ”Por vezes, estes ventos e esta chuva provocam defeitos epidérmicos [na pele dos limões] e depois os supermercados rejeitam, porque não têm aquela qualidade aparente”, lamenta o presidente da Frutoeste. Domingos dos Santos salienta que, neste caso, os agricultores são penalizados e, em vez de terem quatro ou cinco por cento de refugo (produto rejeitado), têm 15 ou 20%. “Nunca se consegue o melhor de dois mundos”, afirma.
No Algarve, a chuva e vento também têm provocado estragos, com alguns pomares alagados e árvores caídas. No entanto, os agricultores continuam a afirmar que tendo em consideração a seca severa que viveram nos anos anteriores, a chuva continua a ser necessária para encher barragens e para repor as águas subterrâneas, tão necessárias ao setor.
Apesar disso, a vice-presidente da Associação de produtores AlgarOrange explica que “a humidade que se mantém na fruta provoca o aparecimento de fungos, o que depois leva ao seu apodrecimento mais acelerado”. Muita dessa fruta acaba por cair das árvores. Diana Tereso adianta que, quando é colhida, a fruta é escolhida nas centrais de embalamento e a que já não está em condições é retirada para a compostagem ou para a produção de biogás. A agricultora estima que essas perdas rondem os cinco por cento.
No Ribatejo, a chuva em demasia também causa estragos. Em declarações à TSF, Mário Antunes, diretor da AgroTejo-União Agrícola do Norte do Vale do Tejo, na Golegã, receia que o temporal obrigue os agricultores da região a fazerem uma reprogramação de toda a “planificação de culturas no período de primavera-verão”, nomeadamente, a do milho, do tomate e da batata, o que vai afetar “as datas de colheitas e entrega na agroindústria”.
Além destas culturas, há outras que também podem sofrer com excesso de água, como a da ervilha, visto que é “instalada entre dezembro e janeiro” e já existem registos de “áreas significativas que estão debaixo de água”.
O diretor da Agrotejo explica ainda à TSF que os agricultores da região Norte do Vale do Tejo “gostam da chuva” no período do inverno, mas “estamos a chegar à primavera” e, por isso, a tempestade começa “a atrapalhar a vida normal dos agricultores” da zona.
Comportas das Barragens do Sotavento do Algarve continuam a descarregar
As comportas das barragens de Odeleite e Beliche, no Sotavento do Algarve, continuam abertas e a descarregar água. Nesta terça-feira foi o primeiro dia que as duas albufeiras abriram as comportas e a barragem de Odeleite começou a descarregar 100 metros cúbicos por segundo e a de Beliche, 30 metros cúbicos por segundo.
Mas, se as chuvas persistirem, as descargas vão continuar por algum tempo. A porta-voz da empresa Águas do Algarve explica que é preciso manter o nível de segurança e nunca permitir que as albufeiras ultrapassem os 98-99%. ”Nós fazemos uma monitorização contínua dos efluentes que chegam às barragens e, de acordo com esses volumes, assim se manterá durante mais ou menos tempo as portas abertas”, explica Teresa Fernandes.
“Estão previstas chuvas nos próximos dias e, se ocorrerem conforme está previsto, estas comportas vão ter que continuar abertas“, adianta. Se as chuvas não acontecerem, o que é pouco provável, a descarga da Barragem de Beliche pode terminar esta quarta-feira e a de Odeleite na quinta feira.
