Associações de regantes garantem que o cenário hoje é muito diferente do verificado no início do ano.
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Nesta altura a barragem do Algarve com piores níveis de água é a albufeira do Arade, com apenas 17,5% da sua capacidade. No entanto, é uma albufeira que serve apenas a agricultura, não se destina ao abastecimento público. Devido à seca que se tem feito sentir na região, em média os cortes determinados para o setor agrícola em Conselho de Ministros foram de 25%. No entanto, o presidente da Associação de Regantes de Portimão, Silves e Lagoa, diz que para os agricultores que se abastecem aqui as restrições impostas foram muito maiores.
"Neste perímetro de rega (...) vamos obter, com a resolução do conselho de ministros, um corte de 44% em relação à agua transferida no ano anterior da Barragem do Funcho para o Arade", salienta João Garcia.
Para a barragem do Arade há apenas uma descarga anual da albufeira do Funcho, que está nesta altura com 53% da sua capacidade. Mas essa água determinada pela Agência Portuguesa do Ambiente é pouca para as culturas de 1.800 agricultores. Mesmo com a barragem com capacidade reduzida, considera que a chuva que caiu pode aliviar as restrições. Por isso, a Aassociação de Regantes pede uma revisão das medidas decididas em Conselho de ministros.
"Que seja revista esta percetagem [de cortes] e que nos sejam dadas garantias para salvaguardar este património, os citrinos do Algarve e neste caso de Silves, que é a cultura que ocupa 90% deste perímetro de rega", adianta.
Caso contrário, sublinham os agricultores de citrinos, com a água que lhes está destinada não vão conseguir manter a campanha agrícola de 2024-2025.
Também Macário Correia, presidente da Associação de Regantes do Sovento algarvio considera que a realidade que havia há três meses não é a mesma de hoje.
"A ministra [do ambiente] não pode deixar de ter isto em conta", adverte. "O governo não pode manter decisões tomadas num cenário catastrófico que era de não termos mais de 35 hectómetros de água de Janeiro para Abril, hoje temos mais do dobro", garante. O ex-secretário de estado do ambiente ressalva que, após uma semana de chuvas, "não se pode dizer que está tudo bem", mas as medidas "têm que ser ajustadas".
Macário salienta que desde o início do ano entraram nas barragens mais de 80 hectómetros e que só na semana da Páscoa cairam cerca de 100 litros por metro quadrado na região.
"Por isso as medidas decididas em Conselho de Ministro já não fazem sentido com o grau com que foram publicadas", considera. "Mas isso tem que ficar escrito, porque o que nesta altura está escrito em Diário da República é que é proibido", lembra.
As principais barragens da região conseguiram encaixar muitos hectómetros cúbicos na última semana. Por exemplo a albufeira de Odeleite está com 47% da sua capacidade e Odelouca, no barlavento algarvio, com 41%. A própria barragem da Bravura que chegou a estar apenas com 7% da sua capacidade já ultrapassa os 20%. Aqui, desde há 2 anos que foi vedada aos agricultores desta zona a possibilidade de retirarem água desta albufeira.