Um grupo de cidadãos está a promover uma vigília, de quarta para quinta-feira, por considerar que o Governo «está a pôr em causa um pilar fundamental da Democracia e da República».
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"Vigília pela Educação" é o nome da iniciativa «apartidária» que está a ser divulgada através da rede social Facebook, disse hoje à Lusa o professor João Paulo Silva, um dos promotores.
«A ideia é que, em todo o país, as pessoas saiam à rua e defendam a escola pública», sublinhou o professor, para quem, «mais do que falar e contestar a questão A ou B, o que está em causa é a própria educação».
João Paulo Silva disse que a ideia nasceu «num pequeno grupo de cidadãos», na sequência da manifestação de professores realizada na semana passada, em Lisboa.
«Na nossa opinião - um conjunto de pessoas que se foram encontrando através do Facebook -, algumas medidas implementadas pelo ministro Nuno Crato estão a colocar em causa a própria educação», explicou.
A vigília está marcada para as 19h00 de quarta-feira nas praças da República, ou outras, em todas as capitais de distrito. A iniciativa apenas terminará no dia seguinte, quinta-feira, pelas 12h00.
Questionado sobre quais as medidas governamentais que estarão a afetar o ensino público, João Paulo Silva apontou o exemplo dos mega-agrupamentos, «escolas gigantescas onde a gestão das coisas mais pequenas, como problemas de ordem disciplinar, são quase impossíveis de gerir».
Também apontou o fim de «disciplinas como educação cívica e estudo acompanhado, que eram importantes para os alunos com mais dificuldades», acrescentou.
Para os professores promotores da vigília, esta é «uma questão muito mais ampla do que a situação profissional dos professores».
Enquanto encarregado de educação e membro de uma associação de pais de uma escola, além de professor, João Paulo Silva apercebeu-se de «um conjunto de atrocidades aos alunos desfavorecidos», como o fim dos cursos de educação e formação (CEF) e de cursos profissionais, referindo conhecer alunos que não fizeram o exame do 9º ano porque não tinham que o fazer para entrar num curso profissional e agora esse curso não abriu.
Para João Paulo Silva, mais do que reduzir custos na área da educação, o ministro da Educação decidiu avançar com «medidas que põem em causa a educação» por «uma questão ideológica».
«É uma questão de cortes, mas também é uma opção política, porque quando retira o estudo acompanhado está a dar um sinal de que agora é só conteúdos e o resto não interessa», sustentou.
João Paulo Silva interroga-se como é que «ao mesmo tempo que [o Governo] garante querer a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, coloca exames que vão fazer os meninos reprovarem no 4º ou 6º ano».
A data da vigília não foi escolhida por acaso e realiza-se em dias em que, no Parlamento, «vão ser discutidas questões sobre educação», acrescentou o promotor.
«É um ato simbólico para dizer: 'vocês estão aí a discutir, mas nós aqui na rua também temos uma opinião'», concluiu.