Como compensação para o abate dos sobreiros, a EDP promete plantar cerca de 42 mil árvores e arbustos, incluindo 30 mil sobreiros. Mas, para Patrícia Herdeira, do movimento "Vamos salvar os sobreiros", "não há forma de compensar".
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Um grupo de cidadãos realiza este sábado uma manifestação em Lisboa contra o abate de mais de 1800 sobreiros para a construção do parque eólico de Morgavel, em Sines, exigindo ao Governo a revogação do despacho que autoriza.
Esta é a segunda manifestação organizada pelo grupo de cidadãos "Vamos salvar os sobreiros", depois de uma primeira concentração realizada em 15 de agosto na praia de Morgavel, em Sines, distrito de Setúbal, prevendo-se que o protesto em Lisboa passe pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática.
Patrícia Herdeiro, do movimento "Vamos salvar os Sobreiros", explica, em declarações à TSF, é "essencial" proteger as florestas.
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"E, em especial, florestas com montado de sobro, que é uma espécie protegida por lei", destaca, afirmando ainda que colocar projetos à frente das florestas é o caminho que deturpa o caminho que deve ser seguido.
"Não estamos a fazer o trabalho por onde queremos seguir, que é um trabalho de sustentabilidade, de regeneração e o Governo não está a tomar as medidas para proteger os nossos ecossistemas e a nossa população", defende.
Como compensação para o abate dos sobreiros, a EDP promete plantar cerca de 42 mil árvores e arbustos, incluindo 30 mil sobreiros. Mas, para Patrícia Herdeira, não há nada que compense o que vai ser destruído agora.
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"Não há forma de compensar", assegura, explicando que por esta floresta, "que é todo um ecossistema", passam aves migratórias - "que são consideradas espécies protegidas" e existe "um dos dois únicos ninhos em Portugal de águia-pesqueira", também esta uma espécie "em risco de extinção".
"São árvores que estão a fazer um trabalho muito, muito importante a cada dia, a cada segundo, produção de oxigénio, retenção de CO2 da atmosfera, de refrigeração do ar, de limpeza do ar, que ajudam o ciclo hidrológico. Tudo isto são coisas que são fundamentais para todos nós neste planeta", acrescenta.
A manifestação começou às 12h00, no Parque Eduardo VII, ponto de encontro para o início de uma marcha pelas ruas da capital, e tem um percurso até ao Ministério do Ambiente e término no Jardim do Príncipe Real.
Perante a contestação e dúvidas sobre este processo, o Governo criou "um grupo de trabalho para analisar as compensações por abate de sobreiros e avaliar e propor melhorias", que terão de ser apresentadas até ao final do ano, anunciou o Ministério do Ambiente e Ação Climática, num comunicado divulgado na quinta-feira.
De acordo com a nota, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, "determinou ainda rever a localização de parte da compensação do Parque Eólico de Morgavel, que será plantada na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, em pelo menos o dobro das árvores cujo abate foi autorizado".
Em causa está um bosque de montado de sobreiros em Morgavel, às portas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, com árvores adultas, algumas centenárias, que estão saudáveis e a extrair cortiça.
De acordo com a legislação vigente em Portugal, os sobreiros são espécies protegidas, pelo que é necessária autorização para abatê-los.
Em 1 de agosto, o ministro do Ambiente declarou a "imprescindível utilidade pública" do parque eólico, autorizando o abate de 1.821 sobreiros, segundo um despacho publicado em Diário da República.
No despacho, Duarte Cordeiro considera que estão reunidas as condições necessárias, como a conformidade ambiental do projeto.
De acordo com a EDP Renováveis, o plano de compensação de abate de sobreiros do parque eólico de Morgavel "prevê a plantação de cerca de 42 mil árvores e arbustos, das quais 30 mil serão sobreiros".