Ciência deve "deixar de ser adorno" na política. Investigadores pedem investimento para acabar com "miséria"
No Fórum TSF, André Carmo, da Fenprof, avisa que, pelo menos, 3500 cientistas estão em risco de perder o emprego no próximo ano. Já a diretora do Instituto de Medicina Molecular avisa que "há um subfinanciamento crónico da ciência" em Portugal
Corpo do artigo
Uma "situação de miséria prolongada" devido à recorrente falta de investimento. É assim que Carlos Fiolhais, antigo professor catedrático do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, carateriza no Fórum TSF o que se passa no Ensino Superior. Por esta e mais razões, vários trabalhadores da ciência protestaram no Porto pelo fim da precariedade na área.
No entender de Carlos Fiolhais, a ciência precisa de "uma revolução". Exemplificando com "grandes governantes do passado", como o antigo ministro da Educação José Veiga Simão, que "democratizou o ensino", é necessária uma "nova visão política", acredita o físico. Como? "Com um Governo que não se limite a repetir o mesmo discurso, que já vem de há muito tempo, o de 'nós gostamos muito de ciência'. Mas usam a palavra ciência apenas como um adorno no discurso, usam a ciência apenas como uma flor na sua lapela."
Sem financiamento, Portugal "não pode atrair os melhores e conservá-los nas universidades e dar-lhes uma vida". Falta competitividade e, apesar de os rankings serem "discutíveis", Carlos Fiolhais sublinha que há "só" cinco universidades nacionais nas 500 melhores do mundo.
Por sua vez, a diretora do Instituto de Medicina Molecular, Maria Manuel Mota, antecipa um aumento da emigração na ciência, caso nada mude: "Se nós, obviamente, não tivermos uma estrutura organizada, forte, que providencia boas oportunidades para as pessoas, elas vão para onde as oportunidades estão. Se não forem aqui, vão ser noutro sítio qualquer. (...) Nós estamos sempre a competir com outros."
"Há de forma crónica um subfinanciamento da ciência no nosso país", enfatiza. A bióloga afirma que o investimento em ciência atingiu 1,73% do produto interno bruto em 2022, acrescentando: "Tínhamos uma meta, já de alguns anos, que [essa despesa] deveria ser de 3%. Estamos muito longe."
De acordo com "os dados do observatório criado para monitorizar o trabalho científico, pelo menos 3500 pessoas estão em risco de perder o emprego já no próximo ano", diz André Carmo, dirigente do Departamento de Ensino Superior e Investigação da Fenprof.
O também professor universitário defende a "necessidade de encontrar uma solução de urgência para dar resposta a estes trabalhadores". "Não são investigadores juniores", refere igualmente, são, sim, profissionais "que estão há muitos anos a contribuir para a elevação da produção científica e que não têm o devido retorno do ponto de vista da estabilização das suas condições de trabalho".

