Cimeira ibérica: “20 anos a enganar as pessoas” sobre a ligação ferroviária entre Algarve e Andaluzia
A cimeira ibérica realizada esta quarta-feira em Faro anunciou que serão efetuados estudos sobre esse troço ferroviário
Corpo do artigo
Depois de ouvir que uma das conclusões da cimeira ibérica realizada esta quarta-feira em Faro aponta para mais um estudo sobre a ligação ferroviária entre as zonas sul da Península Ibérica, Manuel Tão, professor da Universidade do Algarve e especialista em transporte ferroviário, considera que esta é uma decisão apenas para iludir as pessoas.
“Quando não se quer fazer uma ligação ferroviária (...) lança-se um estudo e outro estudo”, afirma. “Eu preferia que politicamente dissessem 'não vamos fazer a ligação' e ponto final. Estamos há 20 anos a enganar as pessoas”, acrescenta.
A possibilidade de haver uma ligação ferroviária entre o Algarve e a Andaluzia foi falada pela primeira vez na cimeira ibérica de 2003, na Figueira da Foz. Nesse encontro estavam previstos cinco corredores ferroviários de alta velocidade entre os dois países, e a ligação Algarve Andaluzia era um deles. Mas, mais tarde, este passou a ser um empreendimento “sem horizonte temporal definido”, alegando-se que teria passageiros em número muito inferior ao corredor Lisboa- Porto-Vigo, por exemplo.
Esta obra tem sido falada e reivindicada por autarcas e empresários dos dois lados da fronteira e foi uma das recomendações que saiu da reunião realizada na semana passada entre as Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) do lado português e as comunidades autónomas espanholas.
Embora do lado português não se tenham feito estudo sobre este corredor ibérico, o professor universitário assegura que a Conselleria de Obras Publicas da Junta da Andaluzia já os realizou. Um dos argumentos para a obra não ter ainda avançado é o seu custo, porque terá de ser feita nova ponte. A ponte Internacional sobre o Rio Guadiana, construida em 1991, não foi projetada com um tabuleiro ferroviário: "Foi uma decisão desastrosa e sem visão."
Manuel Tão acredita que cada vez será mais difícil fazer esta ligação entre o Algarve e a Andaluzia porque não se sabe como serão atribuídos os fundos europeus para as redes transeuropeias no futuro. ”Sem ferrovia não se pode falar em euro-região”, lamenta o especialista.
Empresários algarvios mais otimistas
O presidente do NERA, a Associação Empresarial do Algarve, considera “positivo ter havido uma referência” no texto da cimeira, visto que é uma posição política. Vítor Neto lembra que tem participado em reuniões em Sevilha com associações empresariais espanholas e mesmo com entidades políticas da Andaluzia, e afirma que havia uma opinião positiva por parte dessas organizações. "O que não havia ainda era uma decisão política dos órgãos superiores de Espanha", avança. “Mesmo tendo em conta que ainda não é suficiente, penso que já é positivo ter havido esta referência para se resolver o problema do corredor ferroviário entre Sevilha-Huelva-Faro”, argumenta.